Jeremias Lopes Matusse, conhecido como Djerry Artista, é um ceramista e artista plástico nascido a 5 de Novembro de 1980 em Maputo, no Bairro do Aeroporto.
Actualmente, o artista vive no bairro T3, onde montou o seu pequeno atelier no qual desenvolve a sua arte e mistura criatividade, resiliência e uma forte ligação com a cultura.
O artista começou a desenvolver as suas habilidades nas artes em 1997, aos 17 anos, com o seu antigo mentor zimbabueano, que lhe ensinou o caminho da cerâmica, e em 2000 deu início à sua trajectória a solo, estando a trabalhar desta forma até hoje.
Com os seus caminhos marcados pela paixão e perseverança, a sua arte é um reflexo do que significa transformar matéria-prima – seja argila ou metal – em obras que contam histórias e exaltam a cultura local.
Muito da inspiração de Jerry vem da cultura dos Bushmen – um dos povos indígenas mais antigos de África, que vive no deserto do Kalahari, tradicionalmente nómadas, especializados na caça e na colheita, e com um vasto conhecimento da natureza – pois o artista considera a simplicidade e a sua ligação com esta civilização fascinantes.
“Tento levar esta essência para as minhas obras, que são uma celebração das raízes e da identidade cultural”, assinala.
Actualmente, trabalha em casa, com os seus filhos, que são aprendizes. A produção de cada peça é um trabalho que exige dedicação e tempo, conforme explica.
“Eu começo pelo esqueleto, utilizando barro para moldar a base. Depois, corto chapas de inox e ajusto até obter a forma final”.
As esculturas em barro passam por um forno artesanal no seu atelier, um processo essencial para garantir durabilidade e qualidade. As peças de metal, por outro lado, requerem corte e longas horas de moldagem.
Jerry escolhe o aço inoxidável como material principal para as suas criações em metal. Apesar do custo elevado deste material, o inox é ideal porque não enferruja e garante a durabilidade das peças.
O artista conta que tem de comprar estas chapas na vizinha África do Sul, pois não as encontra em Moçambique, o que considera ser um dos seus maiores desafios.
O tempo médio para concluir uma obra é de 30 dias, período em que Jerry transforma o trabalho duro em arte que inspira e encanta.
Da primeira exposição à conquista de novos mercados
A sua primeira oportunidade surgiu em 2006, com uma exposição no Instituto Camões em Maputo, seguida de uma exibição de artes no Hotel Avenida, em 2008.
Em 2014, teve a sua primeira exposição fora do País, na Cidade do Cabo, África do Sul, e, em 2015, na Associação da Fotografia, também em Maputo. Desde então, o seu talento tem sido reconhecido por empresas e hotéis que têm decorado os seus espaços com o seu trabalho. Para além da África do Sul, o ceramista atravessou fronteiras, expondo o seu trabalho em países como Portugal. “Foi emocionante enviar uma das minhas esculturas para Lisboa, pô-la no avião. Esse momento fez-me acreditar que a minha arte podia ir ainda mais longe”, recorda.
Outros locais onde as suas obras estão exibidas são o Hotel Afrin, em Maputo, e alguns parques da cidade da Beira, em Sofala.
Apesar das suas realizações, Jerry continua a enfrentar desafios, como a falta de apoio aos artistas da sua área, a dificuldade de acesso aos mercados internacionais para exposições e a obtenção dos materiais de que necessita para criar as suas obras.
Uma das suas estratégias para divulgar o seu trabalho e aumentar o seu alcance é o uso das redes sociais, onde mantém as páginas “Jerry Artista” no Instagram e Facebook.
Para o futuro, o artista sonha “com um atelier maior e mais bem equipado”, pois pretende alargar a sua produção e “realizar exposições internacionais que promovam a arte moçambicana”, pelo que considera fundamental o apoio do Ministério da Cultura.
O ceramista também quer apoio para uma exposição fora de Moçambique, como na Europa e em França, pois acredita que a sua arte retrata alguns dos acontecimentos importantes que os antepassados viveram dia após dia. Jerry também deixa uma mensagem para os jovens artistas e para aqueles que querem seguir esta área: “Nunca desistam dos vossos sonhos. Por mais difícil que seja, o esforço e a paixão compensam sempre”.
Com esta determinação, continua a esculpir o futuro, peça por peça, transformando desafios em obras-primas.
Texto: Germano Ndlovo