A crise pós-eleitoral em Moçambique tem levado centenas de cidadãos a procurarem refúgio no Reino de Essuatíni, país vizinho que já registou quase mil pedidos de asilo nos últimos dois meses. A vaga de deslocados deve-se à escalada da violência política, com protestos e confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, segundo informou a Lusa.
Segundo dados divulgados pelo Governo de Essuatíni, 911 moçambicanos foram registados no centro de refugiados de Malindza desde Novembro. “É importante notar que estes números se referem apenas às pessoas que formalmente pediram abrigo naquele centro”, refere um comunicado oficial das autoridades essuatinianas.
A instabilidade política em Moçambique agravou-se após as eleições gerais de 9 de Outubro, marcadas por denúncias de fraude e repressão policial. O Conselho Constitucional proclamou a 23 de Dezembro Daniel Chapo como Presidente eleito, com 65,17% dos votos, sucedendo a Filipe Nyusi. No entanto, a oposição, liderada por Venâncio Mondlane – que obteve 24% dos votos –, contesta os resultados e tem promovido protestos em várias cidades do País.
A repressão aos manifestantes tem sido severa, com relatos de prisões arbitrárias, pilhagens e disparos das forças de segurança para dispersar as multidões. De acordo com organizações da sociedade civil, o número de mortos ascende já a 277 desde o início da crise, havendo ainda mais de 500 feridos. A violência tem gerado receios de um conflito de maior escala, levando muitas famílias a abandonar as suas casas e a procurar segurança além-fronteiras.
O fluxo de refugiados moçambicanos está a pressionar os recursos humanitários de Essuatíni, levando as autoridades locais a solicitar apoio internacional. “Estamos a avaliar formas de reforçar a assistência aos recém-chegados, garantindo que têm abrigo e alimentação”, afirmou um responsável do centro de Malindza.
A poucos dias da tomada de posse do novo Presidente, prevista para 15 de Janeiro, a incerteza política continua a marcar o quotidiano moçambicano. A oposição prometeu intensificar as manifestações, e os observadores internacionais alertam para o risco de um agravamento da crise e um aumento do número de deslocados.