Moçambique figura entre os países africanos com maior número de reclamações relacionadas com o desrespeito em serviços públicos, de acordo com um relatório divulgado pelo Afrobarómetro. O estudo, que analisou dados de 39 países entre 2021 e 2023, destaca problemas recorrentes nos serviços de saúde, educação, polícia e emissão de documentos de identidade no País.
Segundo o relatório intitulado “Dignidade e Respeito nos Serviços Públicos em África: Um Factor Invisível no Compromisso Global de Não Deixar Ninguém para Trás”, 45% dos moçambicanos inquiridos afirmaram ter enfrentado desrespeito em serviços de identidade, 46% em unidades de saúde, 41% no sector da educação e 37% em contacto com as autoridades policiais.
O relatório aponta ainda que os jovens e cidadãos de baixa renda estão entre os mais afectados por este tipo de tratamento. Além disso, aqueles com maior nível de escolaridade também relataram sentir desrespeito por parte dos trabalhadores de serviços públicos, indicando uma possível desconexão entre as expectativas dos cidadãos mais instruídos e a qualidade dos atendimentos oferecidos.
Em comparação com outros países lusófonos, Moçambique está entre os piores avaliados. Cabo Verde destacou-se positivamente, com apenas 9% dos inquiridos a relatarem desrespeito em serviços de identidade e 17% em serviços de saúde. Por outro lado, Angola apresentou números semelhantes aos de Moçambique, enquanto São Tomé e Príncipe obteve resultados medianos.
O Afrobarómetro sublinha que o tratamento desrespeitoso por parte dos serviços públicos tem impacto directo na confiança da população nas instituições governamentais. “Os cidadãos que relatam sentir-se desrespeitados são menos propensos a confiar nos líderes eleitos e mais inclinados a desaprovar a forma como a democracia funciona nos seus países”, diz o relatório.
Moçambique, como outros países mencionados no estudo, enfrenta o desafio de melhorar o atendimento nos serviços públicos, garantindo dignidade e respeito para todos os cidadãos. A conclusão do Afrobarómetro reforça a necessidade de reformas que priorizem a humanização e a eficiência no contacto entre o Estado e os seus cidadãos.