O País é palco de manifestações desde o anúncio dos resultados das eleições gerais (realizadas no dia 9 de Outubro), que têm degenerado em conflitos violentos entre os manifestantes e a polícia, culminando em vandalizações de bens públicos e privados, bem como na paralisação de todas as actividades, afectando severamente a economia.
O sector privado, que é um dos mais afectados com a actual situação, reuniu-se com os principais partidos políticos na tarde desta quinta-feira, 12 de Dezembro, com vista a encontrar possíveis soluções para a crise pós-eleitoral.
Na ocasião, o presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Agostinho Vuma, esclareceu que o objectivo do encontro era “transmitir as preocupações, inquietações e desesperanças da nossa classe empresarial face aos acontecimentos que duram há mais de 45 dias, que se caracterizam por episódios que paralisam a actividade produtiva, atentam contra a sobrevivência das nossas empresas e do serviço que prestamos à sociedade, incluindo a provisão de postos de trabalho e produtos de consumo. Dirigimo-nos aos responsáveis pelos partidos políticos porque sabemos que são interlocutores e líderes válidos para a nossa sociedade. Sabemos que a vossa voz e capacidade mobilizadora movem massas. Mas também nos dirigimos a vós movidos pela certeza de que nenhum actor político poderá materializar qualquer que seja sua agenda governativa sem o incontornável papel do sector privado”, disse o responsável, apelando aos 35 partidos políticos pertencentes a organização Frente Ampla da Oposição que tenham um papel mais activo no diálogo para restaurar a estabilidade social.
Agostinho Vuma explicou que nenhuma economia pode registar um crescimento assinalável sem a intervenção do sector produtivo. “As vandalizações e paralisações laborais, a que temos vindo a assistir, serão para sempre um revés para a nossa economia, um retrocesso do qual levaremos anos para recuperar, não importa quem venha a ser o vencedor das eleições que disputámos”, alertou.
Ainda na sua intervenção, o presidente da CTA referiu-se ao perigo que reside nas paralisações constantes da actividade económica, sublinhando que estas estão a eliminar a cultura de trabalho na sociedade moçambicana. “Este hábito de se trabalhar apenas dois dias por semana periga a cultura de trabalho num país carenciado de mão-de-obra qualificada e dependente da ajuda externa”, vincou.
Para a agremiação empresarial, as manifestações não são movidas pela “verdade eleitoral”, mas sim pelo alto custo de vida que os cidadãos enfrentam. “Uma breve pesquisa realizada nas cidades de Maputo e Matola fez-nos entender que a maioria dos manifestantes não sabe sequer o que é a verdade eleitoral. A população está sedenta de emprego, de melhores condições de vida e de um atendimento condigno nos hospitais. Os que saem para as ruas todos os dias reclamam da fome e do alto custo de vida”, revelou o responsável pela CTA.
O que dizem os políticos?
Na qualidade de presidente da Frente Ampla da Oposição, Lutero Simango deu a conhecer aos empresários o posicionamento dos partidos políticos. “O restart (reinício) é um imperativo nacional para que se possam aplicar reformas no nosso Estado, incluindo no sistema judiciário”, disse, destacando que “para que o sector empresarial privado tenha sucesso, precisa de um sistema judiciário livre do controlo político.”
O político, também líder do partido Movimento Democrático de Moçambique (MDM), explicou que há várias soluções que podem ser encontradas para a actual situação que o País vive. “O maior desafio é encontrar uma que satisfaça a vontade popular expressa nas urnas no dia 9 de Outubro. Compreendemos a missão que a actividade empresarial tem no nosso país, que, além de criar as suas próprias receitas, também satisfaz as necessidades da população. Também acreditamos que o sector privado deve funcionar num ambiente livre da atenção política”, apontou.
Lutero Simango reiterou a disponibilidade dos partidos políticos em negociar uma possível trégua, pois reconhece que se a situação actual continuar “vai fugir do controlo dos políticos, uma vez que se vive, no País, uma situação de saturação generalizada do povo, que existe porque os cidadãos, em particular os jovens, estão a ser marginalizados.”
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou para uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana (que terminou nesta quarta-feira) em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 8h00 às 16h00.
Tal como aconteceu na fase anterior, de 27 a 29 de Novembro, Mondlane pediu que as viaturas parassem de circular das 8h00 às 15h30, para, nos 30 minutos seguintes, se entoarem os hinos de Moçambique e de África nas ruas.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), a 24 de Outubro, dos resultados das eleições de dia 9 do mesmo mês, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Texto: Nário Sixpene