Moçambique está prestes a completar dois meses de manifestações generalizadas, que decorrem em quase todas as províncias do País, como protesto aos resultados eleitorais que dão vitória ao partido Frelimo. Devido a esta situação, os empresários já se queixam das consequências e reportam prejuízos avultados.
Nesta terça-feira, 10 de Dezembro, a Confederação das Associações Económicas (CTA) chamou a imprensa para informar que se reuniu com o Presidente da República, Filipe Nyusi, na segunda-feira (9), com o objectivo de apresentar as inquietações da classe. Os empresários propuseram ao chefe do Estado medidas de segurança adicionais para garantir a continuidade das principais actividades económicas.
“Fizemos referência ao facto de o corredor Maputo, no troço cidade de Maputo até Ressano Garcia, a partir do Hospital José Macamo, já registar dificuldades na transitabilidade. Propusemos medidas de segurança adicionais, como acontecia, por exemplo, na zona centro, quando houve conflitos pós-eleitorais entre a Renamo e o Estado, caracterizadas pela colocação de barreiras e escavações no meio da estrada, sendo que havia uma coluna de escolta das Forças de Defesa e Segurança para garantir a segurança. Pedimos, assim, ao Presidente da República para que esse modelo funcionasse para quase todos os principais corredores do País”, descreveu Agostinho Vuma.
O responsável informou da possibilidade de um novo encontro, desta vez com o ministro do Interior, “que foi a pessoa incumbida para assistir o sector privado nesta matéria”. E prosseguiu: “Há necessidade de falarmos com todos os partidos e temos a informação de que estes já têm um ponto focal para dialogar connosco. Cremos que ainda nesta semana nos organizaremos para conversar com Venâncio Mondlane, se for permitido do lado dele. Ele deve saber que este país que quer dirigir, precisa do sector privado.”
Agostinho Vuma disse ainda que a CTA deu “a conhecer também ao chefe do Estado que o maior impacto destas manifestações está centrado nos sectores do turismo, restauração, logística e alguns serviços, mas incluímos também o impacto na imprensa, onde temos assistido situações de vandalização das viaturas das emissoras”, destacando que as perdas totais e o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) totalizam perto de 24,8 mil milhões de meticais (2,2% do PIB), com 1200 postos de trabalho perdidos.
Neste sentido, explicou a fonte, o crescimento económico do País será revisto negativamente, passando das actuais perpectivas de 5% para 3%. Vuma fez saber também que do lado sul-africano da fronteira, há muitos camiões retidos há quase 72 horas por questões de segurança.
“Pensamos que esta matéria sobre como lidar com as manifestações é da prerrogativa do Presidente da República. Nós simplesmente fizemos uma proposta de trégua para minimizar os impactos, enquanto possíveis negociações vão decorrendo até que se encontre uma solução definitiva”, esclareceu o presidente da CTA.
Questionado sobre a situação do sector do turismo, o responsável referiu que o número de cancelamentos “mudou drasticamente em relação ao que tínhamos projectado no estudo, tendo piorado. Em termos de reservas, a verdade é que para Janeiro não há nada. Para Dezembro, estamos a assistir a cancelamentos massivos.”
“Um dado importante também, que vale a pena partilhar, é que na nossa apresentação com o Presidenta da República também referimos o problema de abastecimento dos balcões dos bancos, pois está a ser muito difícil. Esta situação vai dar uma sensação de falta de liquidez no mercado, o que torna premente existir segurança para garantir o abastecimento dos balcões, porque os carros que os abastecem não estão a conseguir chegar a esses locais por causa das manifestações”, vincou.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou para uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, de 4 a 11 de Dezembro, em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 8h00 às 16h00.
Tal como aconteceu na fase anterior, de 27 a 29 de Novembro, Mondlane pediu que as viaturas parem de circular das 8h00 às 15h30, seguindo-se 30 minutos para se entoar os hinos de Moçambique e de África nas ruas, o que se verificou nos últimos dias em várias artérias centrais, nomeadamente de Maputo.
“Vamos manifestar-nos de forma ininterrupta, sem descanso. Vão ser sete dias cheios. Todas as viaturas ficam paradas”, insistiu, pedindo aos automobilistas para colarem cartazes de contestação nos veículos que circulam até às 8h00 e depois das 16h00.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), em 24 de Outubro, dos resultados das eleições de dia 9 do mesmo mês, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Texto: Nário Sixpene