Na sequência da agitação política e dos protestos em Moçambique, a indústria açucareira do Essuatíni enfrentou perturbações nas cadeias de abastecimento e nas exportações, tendo de encontrar rotas alternativas para os seus produtos, informou esta terça-feira, 10 de Dezembro, a agência de notícias Voz de América (VOA).
O órgão conta que a indústria açucareira do Essuatíni depende fortemente de um terminal no Porto de Maputo para enviar o seu açúcar bruto para a União Europeia (UE) e para os Estados Unidos de América (EUA). Este terminal, propriedade conjunta de Essuatíni, África do Sul, Zimbabué e Moçambique, tem sido vital para a indústria açucareira do país desde meados da década de 1990.
Nontobeko Mabuza, da Associação Açucareira de Essuatíni (ESA), alertou para o facto de a agitação em Moçambique constituir uma grave ameaça para as exportações do país para os mercados regionais e europeus.
“A opção, no entanto, é transportar o açúcar através do Porto de Durban (África do Sul), mas isso teria um custo adicional”, disse Mabuza. E prosseguiu: “Para uma entrega consistente e segura, os nossos clientes poderão optar por migrar para o Porto de Durban, a partir do qual efectuamos o transporte. Isso, no entanto, sobrecarregaria a infra-estrutura de transporte e potencialmente, como disse antes, teria um custo adicional. Talvez também causasse tempos de resposta mais longos, pois as remessas são desviadas de Moçambique para a África do Sul.”
Em 2023, a ESA gerou 19,2 mil milhões de meticais (305 milhões de dólares) com mais de 26 mil toneladas de exportações de açúcar para os Estados Unidos e outros mercados através da Lei de Crescimento e Oportunidades para África dos EUA.
De acordo com Bhekizwe Maziya, director executivo do Conselho Nacional de Marketing Agrícola, a instabilidade de Moçambique causou graves congestionamentos de tráfego e atrasos nas fronteiras com o Essuatíni.
O que estava a acontecer, disse Maziya, era o encerramento do posto fronteiriço de Lebombo entre a África do Sul e Moçambique. “Por isso, os transportes tiveram de ser reencaminhados para Essuatíni a partir da África do Sul. Os efeitos foram os congestionamentos nas nossas fronteiras e os atrasos sofridos pelos importadores e exportadores.”
Os protestos liderados pelo candidato presidencial da oposição Venâncio Mondlane, que afirma ter ganhado as recentes eleições, resultaram no encerramento total do trânsito nas principais estradas de Moçambique, para além de violentos confrontos com as forças de segurança que fizeram mais de 100 mortos.
O activista político Salomão Mondlane disse que a instabilidade pode ter consequências de longo alcance para as economias da África Austral, uma vez que países sem litoral como o Essuatíni lutam para encontrar outras rotas de exportação para os seus produtos.
“Com a agitação a não mostrar sinais de abrandamento, é essencial que os países vizinhos avaliem a sua própria dependência comercial de Moçambique e identifiquem rotas alternativas, se necessário, para mitigar potenciais perturbações”, disse Salomão Mondlane.
Por sua vez, o analista político Sibusiso Nhlabatsi afirmou que a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral deve reforçar as suas estratégias de gestão de conflitos face aos conflitos internos nos Estados-membros, como Moçambique, estabelecendo um quadro de responsabilização e garantindo que estes são responsáveis pelo seu impacto na estabilidade regional.