A semana económica de Moçambique foi marcada por notícias em várias áreas-chave, incluindo o crescimento do endividamento interno, as previsões de inflação até ao final do ano, o desempenho das exportações no primeiro semestre e os progressos no combate ao branqueamento de capitais.
O Banco de Moçambique (BdM) divulgou que o endividamento interno do Estado aumentou 95,7 mil milhões de meticais (1,4 mil milhões de dólares) em 2024, totalizando actualmente 408,1 mil milhões de meticais (6,3 mil milhões de dólares). Este montante representa 26,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em comparação com os 18,1% registados em Dezembro de 2020.
Segundo informações do banco central, entre Setembro e Novembro deste ano, o endividamento interno aumentou 5,5 mil milhões de meticais, sinalizando uma pressão crescente sobre as finanças públicas.
De acordo com o Ministério da Economia e Finanças, o aumento das taxas de juro associadas aos Bilhetes e Obrigações do Tesouro tem encarecido o financiamento público. A taxa de juro média ponderada dos empréstimos governamentais subiu de 5% em 2021 para 6,5% em 2023, reflectindo um acréscimo de 150 pontos-base no período.
As autoridades destacaram que as emissões de dívida interna continuam a desempenhar um papel crucial na captação de recursos financeiros. Contudo, sublinharam que o ritmo de crescimento desta dívida representa desafios à sustentabilidade a longo prazo, particularmente num cenário de taxas de juro elevadas a nível global.
Inflação Pode Aumentar Até ao Final do Ano
O BdM, através do mais recente relatório de Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação (CEPI), apontou para uma possível aceleração da inflação em Moçambique, com estimativas de 3,14% até Dezembro, contra os 2,68% registados em Outubro.
Segundo o documento, a tensão pós-eleitoral tem gerado restrições no fornecimento de bens e serviços, influenciando directamente os preços ao consumidor.
As eleições gerais de 9 de Outubro, que declararam Daniel Chapo como Presidente com 70,67% dos votos, continuam a provocar manifestações em várias regiões do País. A oposição, liderada por Venâncio Mondlane, contesta os resultados, e os protestos recentes afectaram actividades económicas em Maputo e em Ressano Garcia.
Apesar do cenário político instável, o governador do BdM, Rogério Zandamela, reafirmou as projecções de crescimento económico de 5,5% para 2024, considerando que o impacto da instabilidade dependerá da duração das tensões.
Exportações Crescem com a Índia a Liderar as Compras
Dados do BdM sobre o comércio externo mostram que a Índia foi o maior destino das exportações moçambicanas no primeiro semestre de 2024, absorvendo 19,8% das vendas, avaliadas em 48,8 mil milhões de meticais (763,2 milhões de dólares).
Entre os principais produtos exportados para a Índia estão o gás natural, o carvão mineral, legumes secos e castanha de caju. A África do Sul foi o segundo maior mercado, com 16% das exportações (39,5 mil milhões de meticais), enquanto a China ficou em terceiro lugar, representando 12,2% (30,1 mil milhões de meticais).
No total, as exportações moçambicanas no período atingiram 246,3 mil milhões de meticais, um aumento de 3,2% em relação ao mesmo período de 2023. Por outro lado, as importações diminuíram 2,6%, totalizando 269 mil milhões de meticais.
Avanços no Combate ao Branqueamento de Capitais
Moçambique melhorou a sua posição no Índice Basel AML 2024, passando do 6.º para o 12.º lugar entre os países com maior risco de branqueamento de capitais. A pontuação de risco do País foi reduzida de 7,88 para 7,15, segundo o índice elaborado pelo Basel Institute on Governance.
O progresso é atribuído ao reforço dos mecanismos de supervisão e à implementação de normas internacionais de transparência. O relatório assinala que 25 das 40 recomendações do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI) estão actualmente “em conformidade”.
Apesar das melhorias, o País permanece entre os 15 territórios mais vulneráveis ao branqueamento de capitais, de acordo com o índice. A decisão sobre a sua retirada da lista cinzenta do GAFI está prevista para o primeiro trimestre de 2025, dependendo do cumprimento das recomendações pendentes.
Texto: Felisberto Ruco