O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que cerca de 4,8 milhões de moçambicanos necessitam de assistência humanitária, devido aos impactos combinados do conflito armado, da seca e de emergências de saúde pública, que têm vindo a sobrecarregar os recursos humanitários disponíveis no País. Entre os mais afectados, destacam-se 3,4 milhões de crianças, muitas delas em condições de extrema vulnerabilidade.
De acordo com um comunicado divulgado pelo organismo internacional, 10% das pessoas que precisam de apoio são portadoras de deficiência. A Unicef estima que sejam necessários cerca de 4 mil milhões de meticais (64 milhões de dólares) para responder às necessidades mais urgentes de 2,5 milhões de pessoas em todo o território, incluindo 2,1 milhões de crianças.
A situação é particularmente crítica na província de Cabo Delgado, onde a insurgência armada, que se mantém activa desde 2017, continua a deslocar milhares de pessoas. Mais de 1,3 milhão de deslocados internos, retornados e comunidades hospedeiras precisam de apoio humanitário urgente, sendo que 80% desse grupo é composto por mulheres e crianças, aponta o documento.
Além do conflito, o fenómeno climático El Niño agrava a insegurança alimentar no País, afectando 3,3 milhões de pessoas que deverão enfrentar níveis elevados de insegurança alimentar. Segundo a organização, os padrões climáticos La Niña poderão intensificar estas dificuldades em 2025, particularmente nas regiões Centro e Sul. A desnutrição aguda grave é outra preocupação crescente, prevendo-se que mais de 29 000 crianças com menos de 5 anos necessitem de tratamento devido à severidade da situação.
A falta de financiamento previsível e flexível é um dos grandes entraves à resposta humanitária. A Unicef sublinha que, sem recursos adequados, muitas intervenções não chegarão às populações mais necessitadas, colocando em risco o bem-estar de milhões de crianças.
Moçambique é reconhecido como um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, sofrendo frequentemente com fenómenos extremos como ciclones tropicais e cheias durante a época chuvosa, entre Outubro e Abril. Em 2023, a seca induzida pelo El Niño agravou significativamente a insegurança alimentar, afectando cerca de 1,8 milhão de pessoas.
A Unicef reiterou o seu compromisso em apoiar Moçambique na resposta às múltiplas crises e apelou à comunidade internacional para que mobilize recursos de forma urgente, com vista a mitigar os impactos humanitários nas populações mais vulneráveis.