Desde o anúncio dos resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, Moçambique vive um clima de tensão crescente, marcado por manifestações e confrontos que, até 4 de Dezembro, já resultaram em pelo menos 88 mortos, 274 feridos e 3450 detenções, de acordo com dados divulgados pela Plataforma Eleitoral Decide, organização não-governamental de monitorização eleitoral, segundo informou a Lusa.
A contestação intensificou-se após a Comissão Nacional de Eleições (CNE) declarar Daniel Chapo vencedor com 70,67% dos votos. O candidato Venâncio Mondlane, que ficou em segundo lugar com 20,32%, recusou reconhecer os resultados, alegando irregularidades no processo eleitoral e exigindo justiça eleitoral.
Venâncio Mondlane convocou uma nova fase de protestos entre 4 e 11 de Dezembro, com manifestações diárias em “todos os bairros” do País. Estas acções incluem a paralisação da circulação automóvel das 8h00 às 16h00 e apelos para que os participantes ergam cartazes de contestação e entoem os hinos de Moçambique e de África durante os protestos.
“Vamos manifestar-nos de forma ininterrupta, sem descanso. Vão ser sete dias cheios”, afirmou Mondlane, apelando à mobilização pacífica, mas massiva, da população, numa mensagem divulgada através das redes sociais
Apesar dos apelos à não-violência, os protestos têm sido marcados por confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança. Em Maputo e noutras cidades, há relatos de repressão violenta, com disparos de balas reais e detenções em massa.
Segundo a Plataforma Eleitoral Decide, a escalada de violência demonstra o agravamento da crise pós-eleitoral e a insatisfação generalizada da população. Organizações como o Centro de Integridade Pública (CIP), o Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD) e a Amnistia Internacional têm apelado à contenção de todas as partes envolvidas, reforçando a necessidade de diálogo para evitar o agravamento da situação.
A primeira onda de protestos ocorreu entre 27 e 29 de Novembro, logo após o anúncio dos resultados eleitorais pela CNE. Esta segunda fase, iniciada a 4 de Dezembro, visa intensificar a contestação até que o Conselho Constitucional valide ou reveja os resultados.
Enquanto as manifestações continuam a causar interrupções na circulação e no funcionamento normal das cidades, a crise pós-eleitoral evidencia as divisões políticas profundas no País e sublinha a necessidade de reformas que garantam processos eleitorais mais transparentes e inclusivos.
Moçambique permanece em alerta, com um futuro incerto à medida que a tensão se agrava e a população exige respostas concretas para as suas reivindicações.