No Aeroporto Internacional de Maputo, dezenas de pessoas enfrentam horas de espera devido às restrições de circulação impostas pelos protestos pós-eleitorais. Os manifestantes bloquearam várias vias entre as 8h00 e as 16h00, cumprindo a intenção das manifestações lideradas por Venâncio Mondlane, candidato presidencial que contesta os resultados das eleições de 9 de Outubro, segundo informou a Lusa.
Arlete Pestana, de 45 anos, é uma das afectadas. “Não vamos conseguir sair daqui, vamos ter de ficar até, pelo menos, às 16h00”, afirmou à agência noticiosa, sentada à porta do aeroporto. Há mais de quatro horas no local, Ribeiro Mawatareque espera a chegada de um familiar. “Espero chegar a casa mais tarde, depois do desbloqueio da circulação”, explicou.
Enquanto isso, motoristas e taxistas adaptam-se ao cenário. Frederico Tembe, motorista, aponta os desafios de trabalhar nestas condições. “Os preços dos aplicativos já são insustentáveis, e agora ainda temos de pagar dinheiro em algumas barricadas”, disse, referindo-se às chamadas “portagens” improvisadas que surgem nos pontos de bloqueio.
A poucos metros do aeroporto, um grupo de jovens aproveita as estradas desertas para jogar futebol. Wilton Justino, de 26 anos, nega qualquer envolvimento nas cobranças irregulares, mas reconhece a existência de aproveitadores.
“Os protestos fazem sentido, mas há quem se aproveite para vandalizar e criar tumultos que não têm nada que ver”, afirmou. Outro jovem, Dorian Matável, considera as manifestações justas. “Todo o país está a sentir os efeitos da má governação, e isso reflecte-se até nos bloqueios”, declarou.
As manifestações, no entanto, têm deixado marcas trágicas. Desde o início da nova fase de protestos na quarta-feira, pelo menos 12 pessoas morreram e outras 34 foram baleadas, segundo a Organização Não-Governamental Plataforma Eleitoral Decide. Nos 41 dias de manifestações anteriores, entre 21 de Outubro e 1 de Dezembro, o mesmo organismo contabilizou 76 mortos, 240 baleados e mais de 3000 detenções.
Os protestos foram espoletados pelo anúncio dos resultados eleitorais em 24 de Outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que declarou Daniel Chapo, candidato da Frelimo, vencedor com 70,67% dos votos. Venâncio Mondlane, que obteve 20,32%, contestou os resultados e convocou mobilizações que têm culminado em confrontos com a polícia, evidenciando a crescente tensão no País.