O Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, fez esta quinta-feira (28) um apelo veemente pelo fim da violência e da destruição que têm marcado as manifestações pós-eleitorais no País. Durante um discurso na inauguração de uma nova infra-estrutura do Instituto Nacional de Segurança Social, na província de Gaza, Nyusi condenou as mortes e os actos de vandalismo ocorridos nos protestos que contestam os resultados das eleições gerais de Outubro, segundo informou a Lusa.
O chefe do Estado instou os cidadãos a reflectirem sobre as consequências da violência. “Vamos parar com as destruições. Vamos ter peso na consciência por aquilo que devíamos ter deixado evoluir e não evoluiu”, apelou, alertando para os perigos de mergulhar o País numa espiral de instabilidade que, segundo ele, poderá dificultar o desenvolvimento.
Nyusi sublinhou que os moçambicanos precisam de manter a “cabeça fria” para lidar com a tensão pós-eleitoral e pediu aos jovens que canalizem os seus esforços para contribuir para o progresso nacional. “Se não fosse nada, este País não seria invejado. Vocês, os jovens, têm de fazer a vossa parte”, reiterou.
Os protestos, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, têm registado confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, resultando em episódios de violência e destruição de bens públicos e privados.
Na última quarta-feira, o Hospital Central de Maputo relatou que pelo menos seis pessoas ficaram feridas durante os confrontos, incluindo uma jovem atropelada por um veículo militar. As Forças Armadas de Defesa de Moçambique confirmaram o incidente, justificando que o veículo estava em “missão de protecção de objectos económicos.”
De acordo com a organização não-governamental “Plataforma Eleitoral Decide”, os protestos já resultaram em pelo menos três mortos e cinco feridos devido ao disparo de armas de fogo. O total de vítimas desde o início das manifestações, em Outubro, ultrapassa 70 mortos e 200 feridos, segundo a ONG.
O Presidente reconheceu a gravidade da situação e pediu união em torno de soluções pacíficas. “Não fica bem estarem a morrer pessoas porque foram violentadas pelas Forças de Defesa e Segurança ou o inverso. Cada um tem de fazer a sua parte para que isto pare”, enfatizou.
A contestação eleitoral ocorre após a Comissão Nacional de Eleições (CNE) ter anunciado a vitória de Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com 70,67% dos votos. Os resultados, no entanto, ainda aguardam validação pelo Conselho Constitucional, enquanto a oposição liderada por Mondlane acusa o processo de irregularidades.
Nyusi concluiu o discurso apelando aos cidadãos que preservem as infra-estruturas conquistadas ao longo dos últimos anos, salientando que o País necessita de estabilidade para avançar. “Entrámos em Gaza sem muitas escolas, sem muitos hospitais, sem muita água e sem energia. Hoje, temos muito disso. Mas o tempo será justo para reconhecer quem trabalha para o desenvolvimento deste país”, assegurou.