A inflação é um dos indicadores macroeconómicos mais analisados e discutidos no mundo financeiro. Compreender a inflação é essencial não apenas para investidores, mas também para economistas e formuladores de políticas. O seu impacto no mercado de capitais é profundo e multifacetado, afectando directamente a dinâmica económica e as decisões de investimento.
Um dos efeitos mais imediatos da inflação é a sua influência sobre o poder de compra do consumidor. Quando os preços sobem, a capacidade dos consumidores de adquirir bens e serviços diminui, o que pode levar a uma desaceleração da procura. Isto, por sua vez, afecta as expectativas de crescimento económico, criando um ciclo que pode impactar o desempenho de várias indústrias.
Diante de um cenário de aumento da inflação, os bancos centrais aumentam frequentemente as taxas de juros como forma de controlar a situação económica. O aumento das taxas pode elevar o custo do crédito, tornando os empréstimos mais caros, tanto para consumidores quanto para empresas.
Esta mudança nas condições financeiras não apenas afecta a rentabilidade de diversos activos, mas também provoca uma reavaliação constante nas estratégias de investimento. Cada sector e empresa pode reagir de maneira diferente às alterações nas taxas de juros e nos custos operacionais, criando um cenário complexo para os investidores.
A inflação é uma fonte significativa de volatilidade no mercado de capitais, podendo afectar o mercado de capitais de diversas formas. À medida que os investidores reavaliam as expectativas económicas e os riscos associados a diferentes classes de activos, entre os instrumentos financeiros, o imobiliário ou as matérias-primas, a incerteza pode aumentar. Isso leva a uma reconsideração das estratégias de investimento, exigindo que os investidores estejam sempre atentos às mudanças nas condições económicas.
Quanto à expectativa de retorno, a inflação pode afectar negativamente as expectativas dos investidores sobre o desempenho futuro das empresas, em consequência da redução do poder de compra dos consumidores, o que faz com que os mesmos, para compensar o risco, exijam retornos mais elevados como forma de proteger o seu capital ou investimento, resultando na reavaliação dos activos transaccionados no mercado de capitais.
Quanto aos custos de capital e taxas de juros, em resposta a aumentos nas taxas de inflação, os bancos centrais frequentemente aumentam as taxas de juro para controlar este indicador macroeconómico, tornando assim os empréstimos mais caros, o que pode resultar numa desaceleração do crescimento económico.
Isto tem um impacto directo no mercado de capitais, pois o custo de capital aumenta, desvalorizando assim o preço dos principais activos. Num cenário deflacionário, os bancos centrais tendem a baixar as taxas de juro, tornando o custo de capital mais atractivo e estimulando assim a economia a contrair empréstimos e a investir, o que permite valorizar os preços dos activos.
Para investidores que não pretendam estar expostos ao risco da inflação, existem instrumentos para esse efeito, como as obrigações indexadas à inflação. A Reserva Federal Norte-Americana (Fed) emite títulos desta natureza, denominados por TIPS (Treasury Inflation-Protected Securities), que ajustam os pagamentos com base nas alterações do valor da inflação.
A título de exemplo, as recentes reduções das taxas de juro em 50 pontos base pelo Fed e 25 p. b. pelo Banco Central Europeu (BCE) em Setembro constituem um reflexo de como a inflação afecta os mercados financeiros, tendo as curvas de rendimento (yield curves) destas economias reduzido, em contrapartida de um aumento nas valorizações dos mercados accionistas.
Em Moçambique, a inflação tem apresentado uma desaceleração contínua nos últimos meses, fixando-se, em Setembro, em 2,45% em termos homólogos, atingindo o valor mais baixo desde Outubro de 2019, o que motivou o Banco de Moçambique a continuar o relaxamento da política monetária, e voltar a reduzir a taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) para 13,50%, que compara com 17,25% em Janeiro.
Estas reduções das taxas de juro têm levado a uma deslocação da curva de rendimento para baixo em todas as maturidades, em linha com a redução da inflação, reflectindo-se em menores rentabilidades para os investidores em títulos de rendimento fixo, bem como em menores custos para aqueles que contraem empréstimos.