A Trafigura – uma das maiores empresas globais no comércio de matérias-primas, incluindo hidrocarbonetos – anunciou a sua colaboração com o Governo para o desenvolvimento de projectos de restauração florestal em larga escala.
Segundo informou esta quinta-feira, 14 de Novembro, a Lusa, o acordo foi formalizado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024 (COP29), que decorre em Baku, no Azerbaijão, e foi assinado entre o embaixador e chefe da delegação moçambicana na cimeira, Alfredo Nuvunga, e a representante da Trafigura, Hannah Hauman.
Em comunicado, o Ministério da Terra e Ambiente esclareceu que o acordo envolve o Projecto Regional de Restauração da Floresta do Miombo, que surge no âmbito da implementação da Declaração de Maputo sobre o Maneio Sustentável e Integrado do ecossistema florestal.
A floresta do Miombo, que cobre uma vasta região da África Austral, tem um papel crucial na subsistência de cerca de 300 milhões de pessoas, além de oferecer recursos essenciais, como água, alimentos, madeira e até mesmo electricidade.
“O objectivo é produzir créditos de carbono para a sua comercialização no mercado voluntário”, revelou Alfredo Nuvunga, sublinhando que, para além de Moçambique, a República do Congo também assinou um memorando similar com a Trafigura. A Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue estão na fase final de análise dos memorandos, que poderão ser assinados em breve.
Moçambique, que lidera a iniciativa regional do Miombo, compromete-se a continuar a coordenar a integração política entre os países da região e a fornecer informações actualizadas sobre os níveis de emissão de carbono florestal, bem como sobre os programas de conservação e manejo florestal em curso no País.
“O nosso compromisso é de assegurar a gestão política do processo, com o envolvimento de todos os Estados-membros da região, garantindo que as políticas e programas sejam alinhados para promover a sustentabilidade”, assegurou o responsável.
Entretanto, segundo a fonte, a Trafigura compromete-se a “mobilizar financiamento, fornecer assistência técnica para a geração de projectos de restauração florestal e desenvolver mecanismos para a comercialização de créditos de carbono”. A empresa também garantiu que “os esforços de restauração irão trazer benefícios ambientais, climáticos e sociais para as comunidades locais”.
Nos últimos quatro anos, Moçambique perdeu 875 453 hectares de floresta, sendo as províncias de Niassa e Zambézia as mais afectadas. Embora o ritmo da desflorestação tenha diminuído em 2022, o impacto continua a ser significativo. A floresta do Miombo, que abrange também outros dez países da África Austral, como Angola, é particularmente vulnerável à exploração ilegal e à expansão agrícola.
“Conseguimos convencer o mundo de que é preciso proteger o Miombo. Para tal, são necessários recursos financeiros, mas também uma gestão transparente, porque o Miombo não pertence apenas a Moçambique, é um bem comum da região”, destacou o estadista.
O Miombo é considerado o maior ecossistema de florestas tropicais secas do mundo, cobrindo cerca de dois milhões de quilómetros quadrados e prestando serviços ambientais essenciais para milhões de pessoas em 11 países da África Austral. No entanto, o ecossistema enfrenta uma série de ameaças, desde a desflorestação até à degradação provocada por actividades humanas, como a agricultura e a pecuária.
Segundo o Governo, que desenvolveu o plano de acção do projecto, as iniciativas previstas assentam sobretudo no mapeamento e recuperação das áreas mais afectadas pela desflorestação, mas também na fiscalização e no desenvolvimento de projectos de geração de rendimento alternativos à exploração florestal.