O Banco de Moçambique (BdM) poderá adiar o corte na taxa de juro de referência (Taxa MIMO) devido ao ambiente de tensão e instabilidade política que se instalou após as eleições gerais, sugeriu Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank Moçambique.
A informação foi apresentada no relatório mensal de Outubro do índice de actividade económica PMI (Purchasing Managers’ Index), publicado pelo banco, no qual o economista aponta para a necessidade de uma abordagem mais cautelosa na política monetária no actual cenário.
Segundo Mussá, a tensão política resultante dos protestos pós-eleitorais convocados pelo candidato Venâncio Mondlane poderá fazer com que o Banco de Moçambique interrompa os cortes previstos na Taxa MIMO.
Em Setembro, a taxa foi reduzida de 14,25% para 13,50%, em linha com a previsão de inflação controlada, e em um dígito a médio prazo. Contudo, Mussá advertiu que este contexto instável pode levar o banco central a considerar uma pausa nos cortes de juros como medida de precaução.
“O ambiente tenso pós-eleitoral poderá levar o Banco de Moçambique a adoptar uma abordagem mais prudente em relação à normalização da política monetária. Portanto, não descartamos uma pausa nos cortes da taxa de juro de referência”, afirmou o economista no relatório.
Desde o início do ano, a taxa de juro de referência reduziu 375 pontos base (3,75%), o que reflecte um esforço gradual para incentivar o crescimento económico através do acesso ao crédito. No entanto, as taxas de juro reais continuam elevadas devido ao ritmo de queda da inflação, que se situou em 2,5% em Setembro, em termos homólogos.
Para além dos desafios de ordem política, o relatório do PMI assinala um abrandamento da actividade económica em Outubro, com o índice a cair de 50,3 em Setembro para 50,2.
Este decréscimo é reflexo de um crescimento mais lento nas novas encomendas e no emprego, factores que Mussá relaciona com a incerteza política e a consequente hesitação nos investimentos. Valores acima do patamar de 50 indicam um crescimento consecutivo na actividade económica, embora mais moderado.
O relatório sublinha ainda que os atrasos recorrentes nos projectos de gás natural liquefeito (GNL) são outro factor de risco, contribuindo para um cenário de investimento directo estrangeiro (IDE) limitado. Esta situação, segundo o economista, resulta numa oferta de divisas insuficiente e em restrições ao Orçamento do Estado, com impacto negativo no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
O Standard Bank Moçambique prevê uma desaceleração do crescimento económico para 3,6% este ano, em comparação com os 5,4% registados no ano passado, devido à diminuição do efeito de base favorável que resultou da produção de Gás Natural Liquefeito na plataforma Coral Sul.
Além disso, a instituição financeira aponta para uma conjuntura económica marcada pela escassez intermitente de divisas, condições de financiamento restritivas e pressões fiscais persistentes.
Estes factores, combinados com a actual tensão política, levam os especialistas a crer que o Banco de Moçambique poderá interromper temporariamente os cortes na taxa de juro, aguardando uma estabilização do cenário económico e político antes de tomar novas decisões de política monetária.