A Associação de Transitários da África Austral (SAAFF) expressou recentemente uma profunda preocupação com os impactos económicos e logísticos do conflito em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique. De acordo com a SAAFF, a persistente violência na região está a afectar gravemente o comércio e o fluxo de mercadorias ao longo do corredor de Maputo, um eixo logístico essencial para o transporte de bens entre Moçambique, África do Sul e outros países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
De acordo com o portal Engineering News, dados do Banco Mundial indicam que a província de Cabo Delgado, rica em gás natural, tem enfrentado uma intensificação dos ataques insurgentes desde meados de Dezembro do ano passado.
Esta onda de violência tem dificultado o progresso de investimentos cruciais em projectos de gás natural liquefeito, fundamentais para a economia moçambicana e para o desenvolvimento da região. Em Julho deste ano, a SADC retirou as suas forças de segurança da área, o que resultou num agravamento das hostilidades, afectando não só a população local como as infra-estruturas logísticas da região.
A presidente executiva da SAAFF, Juanita Maree, sublinhou que o conflito em Moçambique ocorre num momento delicado para a África do Sul, cujas cadeias de abastecimento já enfrentam múltiplos desafios. Maree criticou a resposta tardia da SADC à crise e apelou a uma intervenção mais robusta e imediata para restaurar a segurança e a ordem pública.
“Para que a África Austral se mantenha competitiva como bloco comercial e rota de transporte regional, a liderança da SADC precisa de assumir um papel de mediação activo para estabilizar o fluxo comercial e proteger a infra-estrutura essencial”, afirmou Maree.
A instabilidade na fronteira entre Moçambique e a África do Sul tem forçado a suspensão temporária de operações em postos estratégicos como Ressano Garcia e a fronteira de Lebombo.
Estes encerramentos prejudicaram o movimento de mercadorias essenciais e puseram em risco o abastecimento de produtos alimentares e farmacêuticos em Moçambique, com reflexos também para os países vizinhos. Infra-estruturas vitais, como o Porto de Maputo e o posto do Km 4, sofreram danos significativos, aumentando a imprevisibilidade no transporte e comércio de bens para a região.
A SAAFF alertou ainda para os efeitos de longo prazo que a crise poderá ter sobre a economia regional, incluindo a perda de postos de trabalho e o impacto nas pequenas e médias empresas que dependem do comércio transfronteiriço.
Barbara Mommen, especialista em comércio e corredores logísticos da SAAFF, afirmou que a interrupção das actividades no corredor de Maputo coloca uma pressão financeira considerável sobre os governos, que terão de reconstruir infra-estruturas e substituir equipamentos essenciais.
O apelo da SAAFF inclui um pedido de consulta urgente entre os órgãos máximos da região para que sejam tomadas medidas decisivas com vista a restaurar a confiança dos transportadores e investidores no corredor de Maputo. “É imprescindível garantir a segurança e a continuidade das operações logísticas para evitar uma crise económica ainda maior e proteger as bases da economia regional”, concluiu Maree.
Por causa desta crise, a empresa de logística sul-africana Grindrod anunciou recentemente a retoma das suas operações portuárias e terminais em Maputo e Matola, após uma breve suspensão devido ao encerramento temporário da fronteira de Lebombo. Este encerramento foi uma resposta às preocupações de segurança decorrentes das manifestações pós-eleitorais em Moçambique, que resultaram em actos de violência e destruição de veículos na região fronteiriça.
A SAAFF reafirma a sua disponibilidade para cooperar com as autoridades regionais na implementação de processos estratégicos que restabeleçam o fluxo de comércio e carga nas infra-estruturas de transporte, tanto rodoviário como ferroviário, assegurando assim uma resposta coordenada e resiliente face aos desafios impostos pelo conflito em Cabo Delgado.