A economia de Moçambique atravessa uma semana turbulenta, marcada pela crise política, pela revisão das previsões de crescimento e pelo aumento da dívida pública. Ao mesmo tempo, dados revelados pelo Banco de Moçambique destacam o sector dos serviços como o principal destino do crédito bancário, reforçando o papel do financiamento como ferramenta para a inclusão financeira.
Instabilidade Eleitoral e Impacto Económico
Desde as eleições de Outubro, Moçambique enfrenta protestos em massa liderados pelo candidato da oposição, Venâncio Mondlane, que contesta a vitória de Daniel Chapo, eleito com 70,67% dos votos. Mondlane não reconhece os resultados e convocou uma paralisação geral, agravando a tensão nas principais cidades do país. A Capital Economics afirmou que, embora o impacto dos protestos no crescimento económico imediato seja limitado, qualquer concessão do Governo aos manifestantes poderá aumentar o risco de incumprimento financeiro, ameaçando a já frágil estabilidade económica.
A capital, Maputo, está em alerta máximo, com o exército nas ruas e restrições de acesso, especialmente nas zonas onde se encontram embaixadas e edifícios governamentais. A pressão social e a resposta governamental aumentaram a tensão, com o Banco de Moçambique a registar uma queda de 0,2% nos eurobonds moçambicanos, resultado do receio de investidores perante a instabilidade.
Revisão do Crescimento pelo FMI e Desafios Futuros
O Fundo Monetário Internacional (FMI) ajustou a previsão de crescimento económico de Moçambique para 4,3% em 2024 e 2025, abaixo dos 5% estimados anteriormente. Apesar de superar a média para a África Subsariana, este ritmo é insuficiente para reduzir a pobreza de forma sustentada. Segundo o FMI, o crescimento do rendimento per capita é insuficiente para enfrentar os desafios de desenvolvimento e melhorar rapidamente a qualidade de vida.
Esta revisão evidencia as dificuldades económicas enfrentadas pelo País, com um ritmo de crescimento abaixo da meta do Governo de 5,5%, estabelecida no Orçamento do Estado. A situação é agravada pela elevada dívida pública, que deverá atingir 96,5% do PIB em 2024, limitando a capacidade de investimento e desenvolvimento.
Aumento da Dívida Pública e Expansão do Crédito ao Sector dos Serviços
A dívida pública de Moçambique, que já representa 96% do PIB, é um desafio estrutural que poderá limitar a capacidade de investimento do país nos próximos anos. Apesar da queda das pressões inflacionárias, que permite antever uma inflação de 3,5% em 2024, os elevados níveis de endividamento continuam a comprometer os recursos destinados ao desenvolvimento.
Entretanto, o Banco de Moçambique (BdM) apontou um aumento de 2% no crédito total disponibilizado à economia, que atingiu 248,6 mil milhões de meticais em Agosto. O sector dos serviços lidera como o principal beneficiário, recebendo 47% deste montante, o equivalente a 116,9 mil milhões de meticais. A cidade de Maputo concentrou cerca de 34% do crédito total, reflexo da sua importância económica e financeira. Estes dados revelam uma expansão moderada no financiamento ao sector privado, com um foco crescente na inclusão financeira.
Texto: Felisberto Ruco