A Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) apelou, esta sexta-feira (8), à realização de um encontro urgente entre os candidatos presidenciais mais votados nas recentes eleições, Venâncio Mondlane e Daniel Chapo, como passo essencial para reduzir a tensão e promover a paz em Moçambique, tal como informou a Lusa.
Segundo uma carta da AEMO, a associação propõe que os candidatos iniciem um diálogo com vista à constituição de um Governo de “inclusão efectiva” e ao término das manifestações que têm agitado o País.
O apelo da AEMO surge no contexto de um clima de instabilidade, após os resultados das eleições presidenciais, anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) a 24 de Outubro, terem atribuído a vitória a Daniel Chapo, candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com 70,67% dos votos.
Em resposta, Venâncio Mondlane, que obteve 20,32% dos votos, convocou protestos em contestação ao resultado, afirmando não reconhecer os dados da CNE, ainda sujeitos à validação do Conselho Constitucional.
A AEMO argumenta que o encontro entre Chapo e Mondlane deve ser pautado por “cedências mútuas” e pelo abandono de “arrogâncias ou posições radicais”.
Na carta, os escritores sublinham a necessidade de uma plataforma de entendimento que promova um compromisso de paz, estabilidade e reforma profunda do Estado, com um Governo inclusivo e representativo que envolva toda a sociedade moçambicana, incluindo a camada jovem.
O documento apela também à criação de um “Comité de Sábios” para facilitar e moderar o diálogo entre os dois candidatos, com o objectivo de alcançar um compromisso duradouro. Os escritores acreditam que um Governo inclusivo poderia criar condições para um processo de reforma do Estado, beneficiando amplamente a população e contribuindo para o desenvolvimento do País.
O clima de contestação às eleições tem gerado episódios de violência e confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Dados do Hospital Central de Maputo, a maior unidade de saúde do País, indicam que pelo menos três pessoas morreram e 66 ficaram feridas durante confrontos na última quinta-feira, oitavo dia de protestos convocados por Mondlane.
A greve geral e os protestos têm paralisado a capital, onde Mondlane exorta os seus apoiantes a continuarem a luta até que seja “reposta a verdade eleitoral”.
Também nesta sexta-feira, Lutero Simango, candidato do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), defendeu uma recontagem dos votos ou uma repetição da votação, como alternativas para garantir a transparência do processo eleitoral.
Em meio à tensão pós-eleitoral, a proposta da AEMO procura oferecer uma via de resolução pacífica e de coesão nacional, incentivando Mondlane e Chapo a assumirem um compromisso pela paz e estabilidade em Moçambique, num momento em que a sociedade civil e a comunidade internacional observam atentamente os desdobramentos da crise política no País.