A cadeia sul-africana de supermercados Shoprite encerrou temporariamente os seus espaços comerciais em Maputo e noutras “áreas de alto risco”, devido às manifestações pós-eleitorais que na quinta-feira (7) resultaram no saque e vandalização de duas lojas na capital.
De acordo com a Lusa, a rede, que conta com cerca de 30 lojas em Moçambique, declarou que as “preocupações com a segurança dos funcionários e clientes continuam a ser de extrema importância” e que a “situação está a ser monitorizada de perto”. A Shoprite afirmou ainda que “as lojas abrirão assim que for seguro fazê-lo”.
“Estamos preocupados com os actos insensatos de danos maliciosos que colocam em risco o sustento, a vida e a segurança de outras pessoas”, afirmou uma fonte da cadeia de supermercados.
Durante os protestos de quinta-feira, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, duas lojas, de telecomunicações e mobiliário, situadas no centro comercial detido pela Shoprite, no centro de Maputo, foram vandalizadas e saqueadas por mais de uma centena de pessoas, segundo relato de um segurança no local.
Na avenida Acordos de Lusaka, em pleno centro da cidade, manifestantes derrubaram o gradeamento e partiram os vidros das montras, incluindo crianças entre os saqueadores. Televisores, telemóveis, impressoras e frigoríficos foram levados, com muitos dos envolvidos a refugiarem-se na antiga Praça de Touros, transformada há anos em zona habitacional.
Um forte contingente policial tentou travar as pilhagens, procedendo a várias detenções, e utilizou gás lacrimogéneo e disparos para dispersar os saqueadores. Parte do material saqueado foi recuperado, enquanto caixas de telemóveis abertas e vazias ficaram espalhadas pelo chão.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique anunciou, em 24 de Outubro, os resultados das eleições de 9 de Outubro, atribuindo a vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) para o cargo de Presidente da República, com 70,67% dos votos. Este anúncio desencadeou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32% dos votos, mas este declarou não reconhecer os resultados, que ainda carecem de validação pelo Conselho Constitucional. Após as manifestações que pararam o País, Mondlane convocou uma paralisação geral de sete dias, com início em 31 de Outubro, incluindo protestos nacionais, e uma concentração de manifestantes em Maputo, agendada para quinta-feira, 7 de Novembro.
Mondlane anunciou que as manifestações continuarão até que, segundo ele, “seja reposta a verdade eleitoral”.
Entretanto, o Hospital Central de Maputo (HCM), a maior unidade de saúde do País, anunciou hoje que pelo menos três pessoas morreram e 66 ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia na quinta-feira, oitavo dia da paralisação convocada por Mondlane.
“Ontem, dia 7 [quinta-feira], registámos um total de 138 admitidos nas nossas portas de entrada, dos quais 101 foram atendidos na urgência de adultos. Destes, 66 foram vítimas dessas manifestações e os restantes por outras causas”, afirmou o director do Serviço de Urgência de Adulto do HCM, Dino Lopes, em declarações à comunicação social.
Ainda segundo o responsável, três pessoas perderam a vida na quinta-feira, em consequência das manifestações.
“Dos 66 feridos, 57 apresentavam lesões possivelmente causadas por armas de fogo, quatro por queda, três por agressão física e dois por armas brancas”, acrescentou Lopes.