A consultora Capital Economics considerou esta quinta-feira, 7 de Novembro, que os protestos em Moçambique não terão um impacto no crescimento a curto prazo, mas alertou que as concessões aos manifestantes poderão aumentar os riscos de incumprimentos das obrigações financeiras, informou a agência Lusa.
“Quaisquer tentativas do Governo para afrouxar a política orçamental para compensar os efeitos dos protestos ou perturbações nos grandes projectos de gás vão fazer com que os riscos de incumprimentos financeiros aumentem novamente”, escrevem os analistas numa nota sobre os protestos em Moçambique, no seguimento das eleições.
As manifestações e confrontos no País desde as eleições “não deverão ter um grande impacto no crescimento a curto prazo”, aponta a Capital Economics, alertando que, ainda assim, “o impacto económico directo vai depender da sua duração”.
Para a consultora britânica, o mais preocupante para a situação financeira do País será quando o Governo resolver abrandar a disciplina orçamental para fazer concessões aos manifestantes ou colmatar o abrandamento na actividade económica que resulta do fecho de lojas, comércio e indústrias que duram há semanas no País.
“O Governo pode tentar compensar o choque económico através de uma política orçamental mais folgada, o que levantaria preocupações sobre o enquadramento orçamental e o empenho no cumprimento do programa do Fundo Monetário Internacional”, afirmam, lembrando que os investidores reagiram mal à instabilidade, com os juros da dívida a subirem desde meados de Outubro.
Os efeitos económicos negativos seriam, ainda assim, muito mais prejudiciais se o impacto dos protestos chegar à província de Cabo Delgado, onde estão as maiores reservas de gás natural do País.
“Os milhares de empregos e o crescimento que era esperado no princípio da década de 2020 estão agora previstos para 2027 e 2028, um adiamento que pode ser ainda alargado se os insurgentes se aproveitarem da actual instabilidade”, alerta a Capital Economics, salientando que o impacto financeiro de um eventual adiamento dos projectos seria muito grave.
Desde que a TotalEnergies suspendeu as obras, em 2021, “o investimento directo estrangeiro no País secou, passando de 33% do PIB nesse ano para 13% em 2023, e isto é importante porque as necessidades de financiamento externo são enormes – o défice da balança corrente era de 34% em 2022, e a dívida pública está acima dos 90%”.
Assim, concluem, “sem as receitas ligadas aos investimentos nestes projectos do gás ou de exportações depois dos projectos estarem implementados, será extremamente difícil para Moçambique evitar um incumprimento soberano (default)”.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique a 24 de Outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Após protestos nas ruas que paralisaram o País, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de Outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo convocada para hoje (7).
A Ordem dos Advogados de Moçambique alertou que “existem todos os condimentos” para que haja “um banho de sangue”, apelando a “um diálogo genuíno” para que isso não aconteça.
Hoje cumpre-se o oitavo dia de paralisação e manifestações em todo o País.