O Conselho Constitucional (CC) determinou um prazo de 72 horas para que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) esclareça discrepâncias no número de votantes registadas nas eleições presidenciais, legislativas e provinciais realizadas a 9 de Outubro. A decisão foi comunicada num despacho emitido pelo CC na terça-feira (5), segundo informou a Lusa.
“Notifique-se a Comissão Nacional de Eleições, na pessoa do seu presidente, para esclarecer a este órgão as razões de existência de discrepância do número de votantes entre as três eleições (presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais)”, lê-se no documento do CC.
Segundo o despacho, as discrepâncias foram identificadas a partir da documentação enviada pela própria CNE, incluindo as actas de apuramento geral dos resultados.
Esta solicitação ocorre numa altura em que se vive um ambiente de tensões políticas no País devido à contestação dos partidos da oposição em relação aos resultados preliminares anunciados pela CNE, anunciados no dia 24 de Outubro, que davam a a vitória a Daniel Chapo, candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com 70,67% dos votos nas presidenciais.
A Frelimo também reforçou a sua maioria parlamentar, passando de 184 para 195 assentos, e obteve a eleição de todos os governadores das 10 províncias moçambicanas.
Carlos Matsinhe, presidente da CNE, afirmou, antes do anúncio dos resultados, que o processo eleitoral foi alvo de vários contenciosos em tribunais e também junto do Conselho Constitucional.
Matsinhe destacou que a CNE estava legalmente obrigada a divulgar os resultados até 15 dias após as eleições, independentemente das contestações pendentes, mas reconheceu que as decisões finais dos órgãos judiciais podem impactar os resultados apresentados.
A 30 de Outubro, o CC já havia solicitado que a CNE entregasse as actas e editais das votações em Maputo e noutras seis províncias, de modo que viabilizassem a validação dos resultados eleitorais. Agora, com este novo despacho, o CC exige um esclarecimento específico sobre as discrepâncias no número de votantes entre as três eleições.
A contestação aos resultados levou a manifestações pelo País que, em alguns casos, resultaram em confrontos violentos com a polícia. Venâncio Mondlane, candidato da oposição apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos, rejeitou os resultados anunciados e convocou uma paralisação geral de sete dias, a partir de 31 de Outubro, em protesto contra o processo eleitoral, que considera marcado por irregularidades.
Por causa do contexto tenso, a Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) declarou esta quarta-feira (6) que a anulação das eleições deve ser considerada como uma opção nas negociações em curso para restaurar a paz no País. O bastonário apelou ao Presidente da República, Filipe Nyusi, para promover um “diálogo genuíno” com todos os actores políticos, incluindo Mondlane, e ofereceu a disponibilidade da OAM para mediar o processo.
As eleições de 9 de Outubro foram as 7.ª presidenciais e legislativas e as 4.ª para as assembleias provinciais e governadores das províncias. O processo ainda aguarda a validação final pelo Conselho Constitucional, que é o órgão de última instância para decidir sobre os resultados eleitorais e contenciosos constitucionais em Moçambique.