O Banco Mundial, no relatório Africa Pulse publicado em Outubro, estima um crescimento de 4% para a economia moçambicana em 2024, um ponto acima da média regional. A previsão é, contudo, mais pessimista do que a do Governo moçambicano (5,5%), assim como de outros organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (4,3%).
No relatório semestral Africa Pulse, o Banco Mundial reviu em baixa a previsão de crescimento para a África Subsaariana, de 3% em 2024 (superior aos 2,4% registados em 2023, mas abaixo dos 3,4% previstos em Abril) e 4% em 2025.
As perspectivas para Moçambique são mais optimistas. Os analistas do Banco Mundial acreditam que a economia moçambicana poderá expandir-se 4% este ano e no próximo. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI), no seu relatório de Outubro, eleva ligeiramente esta estimativa para 4,3% nos próximos dois anos.
O Governo, por sua vez, no Plano Económico e Social e Orçamento de Estado, prevê um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 5,5% em 2024 (após uma taxa de 5% em 2023 e de 4,4% em 2022). Para 2025, o Ministério da Economia e Finanças, no Quadro Macro Fiscal 2025-27, estima uma variação de 4,7%, o que demonstra uma posição claramente mais optimista do que as previsões das organizações internacionais.
Outra boa notícia diz respeito à taxa de inflação de Moçambique, que, segundo o relatório, deverá continuar a trajectória de descida, estimando-se em 3,1% este ano (menos de metade dos 7,1% registados em 2023) e 2,8% em 2025. Em contrapartida, a dívida pública como percentagem do PIB aumenta dos 93,9% estimados para este ano, para 97,5% em 2024 e 98,7% em 2025. Os analistas alertam que as necessidades de financiamento do país permanecem elevadas.
Moçambique destaca-se na descida da taxa de juro de referência
O Banco de Moçambique (BdM) também é destacado neste relatório por ter sido o primeiro (e o mais ousado) da região a inverter o ciclo de medidas restritivas de política monetária. A taxa de juro de referência MIMO, que era de 17,5% em Janeiro, foi sucessivamente reduzida ao longo do ano, atingindo 14,5% em Julho (uma descida de três pontos base, a maior da África Subsaariana) e 13,5% em Outubro.
No capítulo dedicado à qualificação dos trabalhadores, o relatório cita um estudo adicional, intitulado Digital Skills Gap, realizado pelo Banco Mundial e pela IFC (International Finance Corporation). Este estudo aponta para uma procura crescente por trabalhadores com competências digitais na África Subsaariana. Em Moçambique, um dos cinco países analisados, estima-se que, até 2030, entre 20% e 25% dos empregos exigirão trabalhadores com esse perfil.
Perspectivas Económicas para a África Subsaariana
Economia: A recuperação do crescimento na região (de 2,4% em 2023 para 3% em 2024) é impulsionada pelo consumo privado e pelo investimento. A redução das expectativas em relação às previsões de Abril explica-se, em parte, pelo colapso da actividade económica no Sudão. Sem este país, a África Subsaariana registaria uma expansão de 3,5%.
No entanto, o PIB per capita cresce de forma quase insignificante, situando-se 2% abaixo do nível de 2019. O aumento anual do rendimento per capita (com uma taxa de crescimento de apenas 0,5% nos últimos dois anos) é insuficiente para reduzir a pobreza extrema; o número de pessoas em situação de pobreza aumentou de 448 milhões em 2022 para 464 milhões em 2024.
Inflação: Prevê-se que a inflação na África Subsaariana diminua de 7,1% em 2023 para 4,8% em 2024 e 4,6% em 2025. A estabilização dos preços, após o pico registado em 2022, deve-se ao alívio nas perturbações da cadeia de abastecimento, aos efeitos de políticas monetárias e fiscais mais restritivas e à estabilização das moedas. Cerca de 70% dos países (incluindo Moçambique) deverão registar uma inflação mais baixa em 2024-25.
Política monetária e orçamental: As taxas de juro de referência dos bancos centrais continuarão a ser reduzidas, com os cortes mais significativos este ano a ocorrerem em Moçambique, Quénia, Namíbia e Uganda, à medida que a inflação se aproxima do objectivo estipulado. Estima-se que o défice orçamental médio na região diminua de 3,9% do PIB em 2023 para 3,3% em 2024 e 2,9% em 2025. Apenas 29 países deverão melhorar o saldo orçamental; contudo, destes, apenas 10 terão um défice inferior a 3% do PIB.
Dívida pública: A taxa de endividamento do sector público na África Subsaariana deve manter-se elevada e estável, em torno dos 58% do PIB em 2024 (prevê-se uma taxa de 97,5% para Moçambique). O principal problema reside nos juros sobre o serviço da dívida pública externa, avaliados em 19 mil milhões de dólares. Cerca de 80% destes pagamentos são devidos a credores privados e a governos que não integram o Clube de Paris.
Texto: Jaime Fidalgo