A marca moçambicana Woogui foi criada em 2008 e apresenta-se como um exemplo inovador de moda sustentável e valorização do artesanato local.
Fundada por Wacy Zacarias, a Woogui surgiu da visão de transformar os tecidos de capulana em peças elegantes e versáteis. O pano extenso que tradicionalmente se amarra na cintura e serve como uma espécie de saia (vestida principalmente por mulheres mais velhas) ganha novas utilidades. Com a Woogui, os tecidos podem ser usados em eventos formais, no dia-a-dia e em cerimónias, como casamentos. Visto que, na altura da fundação da Woogui, a capulana não atraía o interesse dos jovens, Wacy, com formação em psicologia e experiência na área de desenvolvimento, viu na arte e na moda o potencial para interligar culturas e causar impacto.
O nome Woogui é uma expressão em bitonga (uma das línguas faladas em Inhambane, sul de Moçambique), que significa “alvorecer”. O nome está ligado a uma parte das origens de Wacy, no distrito de Homoíne.
Pouco tempo depois da criação, a marca começou a conquistar o mercado e a ganhar espaço na moda moçambicana e internacional. “Em Julho de 2009 participámos na primeira apresentação da colecção em Milão. No ano seguinte, em 2010, ganhámos o prémio ‘Young Designer’ do Mozambique Fashion Week”, recorda Wacy, com orgulho.
Economia circular
Em 2013, após ter lançado colecções de sucesso, a designer optou por fazer um curso de moda sustentável. Nessa altura, aprofundou-se a intenção de tornar a marca ainda mais amiga do ambiente e socialmente responsável. Em 2016, juntou-se à designer Djamila de Sousa. O foco da marca passou a ser a produção de acessórios e carteiras. Desde então, a marca tem apostado na criação de produtos com base em matéria-prima e técnicas locais, promovendo o artesanato moçambicano e aplicando práticas de moda sustentável e economia circular.
Portefólio diversificado
A marca produz uma gama de acessórios: carteiras, estojos, mochilas, chapéus de palha e de fibra de bananeira, recorrendo a tecidos usados e cabedal, bem como a técnicas de tecelagem, bordado e costura. Tudo em colaboração com artesãos de várias partes do País. A colaboração da Woogui com artesãos vai além da produção de artigos de moda. A marca oferece formações e busca transmitir conceitos de sustentabilidade para serem incorporados no trabalho dos artesãos. Por outro lado, e como forma de enriquecer a cadeia de valor e tornar os produtos únicos, a Woogui promove formação técnica para diversos grupos de artesãos. Já capacitou produtores de várias partes das províncias de Maputo, Nampula e Cabo Delgado.
Outros parceiros
Além da colaboração com artesãos independentes, a Woogui é marca afiliada da Karingana Textiles, que desenvolve novos materiais para a marca, e parceira da Made51, uma organização na esfera do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que apoia artesãos que tiveram de deixar as suas terras de origem. Estes esforços ajudam a enriquecer a cadeia de valor da moda sustentável e a fortalecer a presença da marca.
Actualmente, a Woogui conta com dois funcionários e uma rede de mais de 50 artesãos independentes. A marca está focada em expandir o seu alcance no mercado nacional e regional, enquanto continua a mostrar o que há de melhor na moda sustentável moçambicana.
Os produtos da Woogui estão à venda em vários estabelecimentos da Cidade de Maputo: Centro Cultural Sabura, Loja Celo, livraria Mabuko e Café 3D. Com uma abordagem que valoriza a autenticidade, a ligação à cultura e a co-criação, a Woogui desafia o ‘status-quo’ e celebra o talento local.
Texto: Filomena Bande