O novo Presidente de Moçambique enfrenta um conjunto de desafios profundos e interligados, desde o terrorismo no Norte à instabilidade económica que afecta amplamente a sociedade moçambicana. A análise é de David Matsinhe (investigador e professor adjunto de estudos africanos na Carleton University), publicada no portal The Conversation.
Segundo Matsinhe, Daniel Chapo, o recém-eleito Presidente de Moçambique, terá de gerir uma situação complexa na qual se acumulam crises de ordem política, económica e social.
Chapo, que venceu as eleições de 9 de Outubro com uma ampla margem de votos mas num processo marcado por acusações de fraude, herda um país onde “os problemas são o reflexo de décadas de gestão ineficaz e corrupção sistemática”, escreve o analista.
Entre os desafios mais urgentes estão as desigualdades económicas, a corrupção endémica e a falta de infra-estruturas de qualidade, problemas que exigem não apenas reformas imediatas, mas também políticas de longo prazo.
Um dos pontos críticos, segundo o analista, é a crise económica que tem assolado Moçambique, com um declínio drástico no crescimento do PIB, de 7% em 2014 para apenas 1,8% em 2023.
“O País, rico em recursos naturais, continua a ver milhões de moçambicanos presos numa situação de pobreza extrema, com mais de 62% da população a viver abaixo da linha da pobreza”, sublinha Matsinhe, que aponta a dependência excessiva de indústrias extractivas e um sistema económico desequilibrado como factores contribuidores para a actual crise.

A crise da dívida pública, agravada pelo escândalo das dívidas ocultas, que revelou um montante não declarado de dois mil milhões de dólares, continua a reduzir a capacidade do Estado de investir em sectores essenciais como a saúde e a educação.
O conflito armado no Norte do País, em Cabo Delgado, é outro obstáculo significativo. Desde 2017, a província tem sido alvo de ataques de grupos extremistas que exploram o descontentamento de uma população “desprovida de oportunidades económicas e sociais, fruto da marginalização histórica e da frágil governação”, observa o analista.
Este conflito, que já causou a morte de mais de 4000 pessoas e deslocou quase um milhão, será um teste delicado para a liderança de Chapo, que precisará de “equilibrar respostas militares e de desenvolvimento” para resolver as questões de segurança e inclusão social, especialmente numa região que continua a ser rica em gás natural e rubis.
Matsinhe destaca ainda os efeitos devastadores das mudanças climáticas em Moçambique, que é ciclicamente atingido por ciclones de grande intensidade, como o Idai e o Kenneth, em 2019.
Estes fenómenos têm destruído infra-estruturas e exacerbado a vulnerabilidade do País a crises naturais. O novo Presidente terá de implementar políticas que englobem tanto a mitigação como a adaptação às alterações climáticas, incluindo estratégias de cooperação multilateral.
“O novo Presidente terá de promover reformas estruturais e adoptar uma nova abordagem à governação”
Outros problemas, como o tráfico de drogas, o desemprego elevado – especialmente entre os jovens – e o fenómeno dos raptos de empresários e figuras públicas também ameaçam a estabilidade e a segurança do País.
“As redes de narcotráfico, apoiadas por fronteiras porosas e uma governação debilitada, reforçam redes de influência política e dificultam o combate ao crime organizado”, alerta Matsinhe, sublinhando que o combate a estes problemas exige instituições estatais mais robustas e colaboração internacional.
Para enfrentar estes desafios, Matsinhe acredita que o novo Presidente terá de promover reformas estruturais e adoptar uma nova abordagem à governação.
“O futuro de Moçambique depende da capacidade de liderança do próximo Presidente em romper com os moldes tradicionais da Frelimo, eliminando as práticas de clientelismo e investindo em crescimento económico inclusivo, segurança e desenvolvimento sustentável”, concluiu.