Um estudo recente publicado pelo portal The Conversation, realizado por uma equipa de investigadores do Imperial College London, liderada por Hamish Beath, pesquisador associado em transições sociais, revela que as soluções de energia solar fora da rede eléctrica poderão ser a opção mais económica e eficaz para garantir o acesso à electricidade em Moçambique, especialmente nas zonas rurais.
De acordo com as projecções avançadas, até 88% da população sem acesso à electricidade poderá beneficiar desta alternativa até 2030, dependendo dos níveis de consumo energético e das políticas adoptadas.
O estudo surge num momento crítico em que o País enfrenta sérios desafios no que concerne ao acesso a fontes de energia fiáveis. Estima-se que mais de 16 milhões de Moçambicanos (cerca de 40% da população) continuarão sem acesso à electricidade até 2030, caso não sejam implementadas medidas adequadas.
As infra-estruturas da rede eléctrica nacional, actualmente disponíveis, não são suficientes para cobrir todo o território, especialmente as áreas mais remotas, onde a expansão da rede convencional acarreta custos proibitivos.
Hamish Beath explica que a energia solar fora da rede – sistemas independentes de painéis solares instalados em residências ou comunidades – surge como a solução mais viável para estas regiões.
“A energia solar pode ser particularmente competitiva em zonas de baixa procura energética, podendo satisfazer as necessidades de até 88% da população sem electricidade, conforme indicado nos cenários de baixo consumo”, afirma o investigador.
Para além disso, o estudo apresenta uma abordagem inovadora para a avaliação dos custos das diferentes opções energéticas, considerando não apenas o custo directo das tecnologias, mas também os impactos decorrentes da fiabilidade das fontes de energia e das emissões de carbono.
Beath sublinha que “a aplicação de um preço sobre o carbono e a penalização da baixa fiabilidade das redes tradicionais aumentam consideravelmente a competitividade da energia solar em Moçambique”. Os resultados indicam que, ao aplicar um preço ao carbono, a energia solar torna-se a opção mais económica para até 88% da população sem electricidade, comparativamente aos 50% num cenário onde o carbono não é considerado.
O relatório do estudo sublinha também a importância das políticas de créditos de carbono para a viabilização de soluções energéticas sustentáveis. Embora o mercado de créditos de carbono em África ainda esteja numa fase inicial, Beath considera que este instrumento poderá ter um papel decisivo na electrificação das regiões mais desfavorecidas do continente. O estudo identifica ainda as áreas onde os esquemas de créditos de carbono poderão ser mais eficazes, com base nos custos e na procura energética local.
No que toca à fiabilidade, o documento destaca que os sistemas solares fora da rede oferecem vantagens substanciais em comparação com a rede eléctrica convencional, particularmente em zonas rurais onde as interrupções no fornecimento de energia são frequentes.
“A maior fiabilidade dos sistemas solares fora da rede pode não só melhorar a segurança das famílias, como também impulsionar o rendimento dos agregados familiares, proporcionando-lhes uma fonte de electricidade estável e contínua”, afirma Hamish Beath.
O estudo recomenda que o Governo, em conjunto com os seus parceiros internacionais, adopte políticas de incentivo à instalação de sistemas de energia solar fora da rede. Subsídios e programas de financiamento para tornar esta tecnologia acessível às comunidades mais desfavorecidas são apontados como medidas fundamentais para acelerar a transição energética.
Estas iniciativas poderão desempenhar um papel crucial no cumprimento do Objectivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que visa garantir o acesso universal a energia moderna, acessível e sustentável até 2030, conclui o estudo.