A semana económica trouxe à luz desenvolvimentos importantes para a economia moçambicana, destacando o aumento da contribuição das empresas públicas para o PIB, as tensões jurídicas no caso das dívidas ocultas e as preocupações com o impacto das alterações climáticas. Embora os sectores primário e terciário tenham mostrado resiliência no segundo trimestre de 2024, os desafios associados à dívida e às mudanças climáticas continuam a lançar incertezas sobre o crescimento a médio prazo.
As empresas públicas e participadas pelo Estado aumentaram a sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB), passando a representar 3,2% da economia no final de 2023, um crescimento de 0,4 pontos percentuais em comparação com 2020. De acordo com o relatório de Riscos Fiscais para 2025, divulgado pelo Ministério da Economia e Finanças (MEF), este aumento deve-se à recuperação económica após a pandemia de covid-19.
As receitas provenientes das empresas públicas incluem impostos que atingiram 20 mil milhões de meticais (254,3 milhões de dólares) anuais, enquanto os dividendos cresceram 14%, totalizando 8,9 mil milhões de meticais (113 milhões de dólares) em 2023. A Hidroeléctrica de Cahora Bassa e a Portos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique foram as maiores contribuintes.
No entanto, os subsídios do Estado às empresas públicas diminuíram cerca de 1,2 mil milhões de meticais (15,2 milhões de dólares) em 2023, com impacto nas operações de empresas como a Electricidade de Moçambique e a Linhas Aéreas de Moçambique.
Dívidas Ocultas: Privinvest em Disputa Judicial
No caso das dívidas ocultas, a Privinvest solicitou ao Tribunal Comercial de Londres a suspensão da execução de um pagamento de dois mil milhões de dólares (126,4 mil milhões de meticais) a Moçambique. A empresa naval alegou que a falta de fundos poderia levar à insolvência caso o pagamento seja exigido, e argumentou que documentos importantes não foram revelados por Moçambique, prejudicando a justiça do julgamento.
A decisão inicial do tribunal, proferida em Julho de 2023, tinha concedido a Moçambique o direito a receber 825 milhões de dólares (52,14 mil milhões de meticais), além de determinar a compensação pelos 1,5 mil milhões de dólares (94,8 mil milhões de meticais) que o País deve a bancos e obrigacionistas. A disputa jurídica ainda se prolonga, com Moçambique a exigir juros de 40 milhões de libras e custos judiciais estimados em 49 milhões de dólares.
Alterações Climáticas Ameaçam Crescimento em 2025
O impacto das alterações climáticas continua a ser uma preocupação central para o crescimento económico de Moçambique. De acordo com o mais recente relatório de Riscos Fiscais do MEF, a previsão para 2025 aponta para uma redução do crescimento em 0,7 pontos percentuais devido à influência do fenómeno La Niña, que deverá trazer chuvas acima do normal nas regiões Centro e Sul entre Outubro de 2024 e Março de 2025.
Moçambique, um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas a nível global, enfrentou 59 desastres naturais entre 2012 e 2024, com mais de 8,9 milhões de pessoas afectadas. O impacto contínuo das catástrofes naturais tem pressionado o Governo, que tenta equilibrar as necessidades humanitárias com a sustentabilidade fiscal e o crescimento económico.
Crescimento de 4,5% no Segundo Trimestre de 2024
Apesar dos desafios, a economia registou um crescimento de 4,5% no segundo trimestre de 2024, impulsionado principalmente pelo sector extractivo, que apresentou uma variação de 17,48%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). O sector da pesca também mostrou resiliência, com um crescimento de 1,61%, enquanto o sector terciário registou um crescimento de 3,61%, com destaque para a hotelaria e restauração.
O acumulado do primeiro semestre de 2024 foi de 3,86%, com o Governo a manter a previsão de um crescimento de 5,5% para o ano, apesar das incertezas trazidas pelas alterações climáticas e pelos desdobramentos das dívidas ocultas.
Texto: Felisberto Ruco