As alterações climáticas estão também a pôr em risco a segurança da água e da energia, a agravar a pobreza e a afectar negativamente as notações de crédito soberano, adverte o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), observando que são as comunidades mais pobres e vulneráveis do continente que são mais duramente atingidas pela crise.
“África está no olho do furacão das alterações climáticas, representando nove dos dez países mais vulneráveis às alterações climáticas a nível mundial”, disse o presidente do Banco, Akinwumi Adesina, aos participantes numa mesa redonda de alto nível sobre financiamento climático, realizada no âmbito das Reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, no início deste ano.
“Mas África não está a receber o que precisa para se adaptar às alterações climáticas. O continente recebeu apenas 30 mil milhões de dólares por ano para a adaptação ao clima, enquanto as suas necessidades são de 277 mil milhões de dólares por ano, o que deixa um enorme défice de financiamento”, reiterou.
Este lamentável subinvestimento na acção climática em África levou o BAD a aumentar o seu compromisso com o financiamento climático. Em 2023, as considerações relativas às alterações climáticas foram integradas em 97% das operações do banco, com 5,8 mil milhões de dólares atribuídos ao financiamento do clima. Isto representa 55% de todas as aprovações da instituição. Foram afectados 2,7 mil milhões de dólares à mitigação e 3,1 mil milhões de dólares à adaptação, segundo a última apresentação do BAD aos investidores.
“O Banco Africano de Desenvolvimento estabeleceu o objectivo de dedicar 40% do seu financiamento total ao financiamento climático. Ultrapassámos esta meta de forma consistente ao longo dos últimos três anos, atingindo 55% em 2023”, observou Adesina.
A ambiciosa Janela de Acção Climática
O BAD inovou e criou a Janela de Acção Climática no âmbito da 16.ª reconstituição do seu Fundo de Desenvolvimento Africano. Descrita por Adesina como “a primeira entre todos os bancos multilaterais de desenvolvimento”, a Janela de Acção Climática obteve um financiamento inicial de 429 milhões de dólares dos parceiros de desenvolvimento Alemanha, Reino Unido, Países Baixos e Suíça. O banco planeia aumentar este montante para 13 mil milhões de dólares.
De acordo com a instituição, “a Janela de Acção Climática apoiará directamente os países de baixos rendimentos e mais vulneráveis em matéria de adaptação às alterações climáticas, atenuação e assistência técnica. O primeiro convite à apresentação de propostas para a adaptação suscitou projectos no valor de 4 mil milhões de dólares, dez vezes mais do que o montante total do mecanismo, o que confirma a enorme procura de financiamento para a adaptação por parte dos países.”
A Janela de Acção Climática está preparada para ter um impacto significativo no desenvolvimento: 20 milhões de agricultores terão acesso a tecnologias agrícolas resistentes ao clima, 18 milhões de pessoas beneficiarão de serviços de água, saneamento e saúde sustentáveis e resistentes, 9,5 milhões de pessoas terão acesso a energias renováveis e um milhão de hectares de terras degradadas serão reabilitados.
Além disso, o Programa de Aceleração da Adaptação em África – programa emblemático do Banco Africano de Desenvolvimento e do Centro Mundial para a Adaptação – está a mobilizar 25 mil milhões de dólares para a adaptação às alterações climáticas. É o maior programa de adaptação climática do mundo.
O Banco salienta que África apresenta oportunidades substanciais de investimento de raiz para reforçar a acção climática. Os vastos recursos naturais do continente, incluindo a luz solar abundante e os minerais essenciais, oferecem um potencial significativo para a adaptação às alterações climáticas e a transição energética global. África detém uma parte considerável dos recursos minerais críticos do mundo, com 85% do manganês, 80% da platina e do crómio, 47% do cobalto e 21% da grafite. Estes minerais são essenciais para a produção de veículos eléctricos e outras tecnologias ecológicas, posicionando o continente africano como um actor central na mudança global para a energia sustentável.
Fonte: African Business