A pausa dos EUA na concessão de novas licenças de exportação de GNL deverá terminar após as eleições presidenciais em Novembro, mas o aumento esperado na produção global poderá não acompanhar a procura depois de 2029, afirma a consultora Wood Mackenzie.
Até 60 milhões de toneladas/ano (82 bcm/ano) de capacidade global enfrentam “novos desafios”, devido à incerteza legal contínua nos EUA, às sanções sobre o sector de GNL da Rússia e aos contratempos em Moçambique, acrescentou a consultora numa nota mitida nos últimos dias.
“Esperamos que a pausa seja levantada após as eleições presidenciais de Novembro [nos EUA], mas não está claro quão rapidamente será desenvolvido um novo quadro para as aprovações e como este evoluirá”, referiu.
Incerteza nos EUA e dúvidas sobre aumento da procura
Destacando a incerteza legal nos EUA, a Wood Mackenzie cita uma decisão judicial do mês passado que anulou a autorização regulamentar para a instalação de GNL da NextDecade Corp, em Rio Grande, no Texas, que tinha como objectivo exportar 37 bcm/ano de GNL.
Entretanto, a consultora também refere que o lançamento da instalação de GNL do Árctico 2, na Rússia, está a ser dificultado pelas sanções dos EUA e da Europa, enquanto o desenvolvimento de projectos em Moçambique continua a enfrentar preocupações políticas e de segurança, para além de um quadro eleitoral moçambicano, cujas eleições se relizam em Outubro.
“O crescimento da oferta proveniente do Qatar e de Abu Dhabi ajudará a colmatar as falhas, mas o calendário da próxima vaga de oferta parece menos certo do que há 12 meses atrás.”
Além disso, a consultora adverte que um mercado de GNL mais apertado do que o esperado poderá diminuir o apetite dos compradores asiáticos sensíveis ao preço e atrasar a sua transição do carvão.
“Se o crescimento da oferta for menos pronunciado do que se previa, a confiança dos compradores poderá revelar-se frágil no tão aguardado reequilíbrio do mercado global de GNL – quando se espera que a descida dos preços ajude a concretizar a procura asiática – a partir de 2026.”
Imposto na UE?
Outro obstáculo de longo prazo seria o crescente escrutínio sobre a pegada de carbono da indústria de GNL, o que poderia eventualmente levar a UE a implementar um imposto sobre as emissões provenientes de tais importações, assinala a Wood Mackenzie.
A administração Biden impôs em Janeiro uma moratória temporária à aprovação de licenças de exportação de GNL para países sem acordo de comércio livre, enquanto revia o impacto económico e ambiental das plantas de GNL propostas. A pausa foi revogada por um tribunal em Julho, decisão que foi posteriormente contestada pelo governo.
A Montel noticiou na semana passada, contudo, que ambos os candidatos – o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris – na corrida presidencial dos EUA provavelmente irão tentar retomar as aprovações de projectos de exportação de GNL.
EXIM Bank é um dos maiores financiadores do projecto da Área 1
O financiamento do projecto de GNL na Área 1 em Moçambique, liderado pela TotalEnergies, envolve uma combinação de investimentos de capital e dívidas provenientes de várias fontes internacionais. Este projecto é uma parte essencial da estratégia de Moçambique para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural liquefeito (GNL).
O EXIM, o Banco de Exportação-Importação dos Estados Unidos, é uma das principais instituições envolvidas no financiamento do projecto de GNL em Moçambique. Em 2020, aprovou um empréstimo de cerca de 4,7 mil milhões de dólares para apoiar a participação dos EUA no projecto, financiamento que s destina especificamente à aquisição de bens e serviços americanos que serão utilizados na construção e operação das instalações de GNL, assegurando que as empresas dos EUA beneficiem do acordo.
Depois, há outros Investimentos privados de várias empresas norte-americanas envolvidas no desenvolvimento do projecto da Área 1. Por exemplo, a Anadarko Petroleum, que inicialmente liderava o projecto, antes de vender a sua participação à TotalEnergies. No entanto, empresas norte-americanas como a Baker Hughes e a McDermott International estão entre os principais fornecedores de equipamentos e serviços para o projecto, beneficiando indirectamente do apoio governamental dos EUA e de financiamento privado.
O projecto Mozambique LNG inclui o desenvolvimento dos campos Golfinho e Atum localizados na Área 1 Offshore e a construção de uma fábrica com duas unidades de liquefação com capacidade de 13,1 milhões de toneladas por ano. A Área 1 contém mais de 60 Tcf de recursos de gás, dos quais 18 Tcf serão desenvolvidos com as duas primeiras unidades de liquefação.
A Total E&P Mozambique Area 1, Limitada, uma subsidiária integral da TotalEnergies, opera o projecto Mozambique LNG com uma participação de 26,5%, juntamente com a ENH Rovuma Área Um, S.A. (15%), Mitsui E&P Mozambique Area1 Limited (20%), ONGC Videsh Rovuma Limited (10%), Beas Rovuma Energy Mozambique Limited (10%), BPRL Ventures Mozambique B.V. (10%), e PTTEP Mozambique Area 1 Limited (8.5%).