Uma empresa fundada e controlada por um ex-executivo da BP Plc obteve uma licença para restaurar e proteger florestas de manguezais (mangais) em Moçambique, no maior projecto deste tipo em África até à data, com um investimento estimado em 3,7 mil milhões de meticais (60 milhões de dólares).
Segundo a Bloomberg, a Blue Forest, sediada nos Emirados Árabes Unidos, irá iniciar em Novembro o plantio de 200 milhões de árvores de mangue numa área com o dobro do tamanho de Singapura. O financiamento deste projecto será garantido através da pré-venda de créditos de carbono, baseados no carbono absorvido pelas árvores costeiras. A empresa já investiu cerca de 63,2 milhões de meticais na preparação desta iniciativa.
“Este mecanismo de pré-venda permite-me aceder ao financiamento de carbono numa fase inicial, para que possa usar o dinheiro para plantar as árvores”, explicou Vahid Fotuhi, fundador da Blue Forest em Janeiro de 2022. “Quando as árvores estiverem grandes e a gerar créditos de carbono, utilizaremos esses créditos para pagar os empréstimos”, acrescentou.
Os mangais, que se desenvolvem principalmente em águas salgadas e salobras ao longo das costas, têm a capacidade de absorver até dez vezes mais carbono do que as árvores terrestres, tornando-se numa ferramenta poderosa para o combate ao aquecimento global. O carbono armazenado por estas árvores pode ser convertido em créditos de carbono, que os emissores compram para compensar as emissões de gases de efeito estufa.
Cada crédito de carbono representa uma tonelada de dióxido de carbono ou o seu equivalente removido da atmosfera ou impedido de alcançá-la. No entanto, estas compensações têm sido alvo de escrutínio nos últimos anos, após alguns projectos terem exagerado nas suas alegações de emissões evitadas, levando a uma diminuição das vendas de créditos a nível global.
Fotuhi, que já desempenhou o cargo de chefe de relações governamentais e públicas da BP na Argélia, entre 2004 e 2007, e mais tarde dirigiu a divisão solar da empresa para o Médio Oriente e Norte de África, possui também experiência no sector das energias renováveis e na implementação de projectos de impacto social em África.
O projecto, denominado MozBlue, cobre 1500 quilómetros de costa nas províncias da Zambézia e Sofala e prevê criar 5 mil empregos, destinando 60% das receitas para as comunidades locais, contratantes e Governo. A primeira fase irá abranger 5116 hectares de floresta degradada.
Ao longo de 60 anos, espera-se que o projecto remova 20,4 milhões de toneladas de carbono da atmosfera. O progresso será avaliado através da medição do crescimento e da sobrevivência das árvores de mangue, conforme detalhou Fotuhi.
Este é o primeiro projecto de desenvolvimento comercial da Blue Forest. Parte dos créditos de carbono iniciais foram pré-vendidos a um investidor institucional europeu, cuja identidade não foi revelada. Enquanto isso, projectos anteriores foram financiados por recursos filantrópicos na Costa do Marfim e no Quénia, e novas iniciativas comerciais poderão começar em breve na Tanzânia e na África Ocidental. No total, a empresa detém projectos que podem cobrir até 215 mil hectares em África e na Ásia, segundo um comunicado da empresa.