O impacto do aquecimento global está a custar aos países africanos até 5% da sua produção económica, afirmou esta quinta-feira (5) o responsável das Nações Unidas pelo clima, Simon Stiell, apelando a mais investimentos para ajudar à adaptação às alterações climáticas.
O continente de 54 nações, que tem suportado o peso das alterações climáticas apesar de libertar muito menos emissões poluentes do que o mundo industrializado, recebe apenas 1% do financiamento anual global para o clima.
“A crise climática é um buraco económico, que suga a dinâmica do crescimento da economia”, afirmou Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC), numa reunião dos ministros africanos do ambiente em Abidjan, na Costa do Marfim.
Embora o continente tenha atraído novos investidores em projectos de mitigação e adaptação às alterações climáticas nos últimos anos, recebe uma parte muito pequena dos 100 mil milhões de dólares de financiamento disponíveis a nível mundial, de acordo com os responsáveis governamentais africanos.
“É uma gota de água no oceano dos 1,3 biliões de dólares necessários”, sublinharam os representantes, sem fornecerem um prazo para a obtenção desse montante.
“O vasto potencial de África para impulsionar soluções climáticas está a ser frustrado por uma epidemia de subinvestimento”, declarou Simon Stiell.
Ainda segundo o responsável, “os investimentos necessários incluem 4 mil milhões de dólares anuais para eliminar a utilização de combustíveis tradicionais para cozinhar no continente, como a madeira, que contribui para as emissões de gases com efeito estufa. Dos mais de 400 mil milhões de dólares gastos em energia limpa no ano passado, apenas 2,6 mil milhões foram para os países africanos”.
As alterações climáticas têm sido responsabilizadas por secas prolongadas e inundações catastróficas em toda a África, que atingiram a produção de alimentos, fazendo subir os preços dos produtos de base e agravando a fome. Stiell referiu que tem havido apelos crescentes para que a África garanta mais financiamento climático no período que antecede a COP29 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – em Baku, onde as nações vão procurar um consenso sobre novos objectivos internacionais de financiamento climático.
“Temos de utilizar soluções de investimento inovadoras para a adaptação sem agravar o peso da dívida”, apontou Hanan Morsy, economista-chefe da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), numa conferência sobre financiamento climático na semana passada.
Estas inovações incluem o refinanciamento e a conversão da dívida, bem como os mercados de carbono, segundo a economista.
Fonte: Reuters