A China precisa de aumentar o seu financiamento a Angola para que o país africano possa absorver mais produtos fabricados no país asiático, desde painéis solares a carros eléctricos, afirmou a ministra das Finanças angolana, Vera Daves de Sousa, na terça-feira (3).
A China aprovou empréstimos no valor de 4,61 mil milhões de dólares a África no ano passado, o primeiro aumento anual desde o recorde de 28,4 mil milhões de dólares em 2016, quando 68% dos empréstimos foram apenas para Angola, mesmo quando começou a ‘fechar a torneira’ do dinheiro e a afastar-se de projectos de infra-estruturas de grande escala.
Desde que abandonou a OPEP, em Dezembro, Angola tem procurado formas de consolidar as suas finanças e a sua segurança alimentar, desenvolver o seu sector das pescas e atrair mais investimentos geradores de emprego para o interior, referiu Vera Daves de Sousa numa entrevista à Reuters antes da cimeira China-África, em Pequim.
A China manifestou a sua vontade de ajudar Angola a modernizar o seu sector agrícola, a desenvolver as suas indústrias e a diversificar a sua economia em troca da importação de mais produtos chineses, mas enfrenta a concorrência do Ocidente.
“Esta é uma discussão difícil, porque no nosso caso, isto vem junto com a solução de financiamento”, declarou a ministra, acrescentando que “se as receitas fiscais de Angola fossem suficientemente fortes para nos permitir escolher com base em critérios de qualidade e preço, teríamos uma discussão totalmente diferente”.
Concorrência de Painéis Solares
Segundo Vera Daves de Sousa, a proposta de Pequim não só teria de incluir mais financiamento para ajudar Luanda a reduzir a inflação elevada e a criar emprego a curto prazo, mas também garantir que o país dispõe de indústrias robustas das quais possa depender no futuro. Caso contrário, a China poderia perder para a concorrência da Europa, que, de acordo com a ministra, exigia que Angola comprasse os seus produtos, mas que, em contrapartida, estava a canalizar mais facilmente novos financiamentos.
Os Estados Unidos da América (EUA) e a Europa mantêm que a economia chinesa de 19 biliões de dólares tem excesso de capacidade em painéis solares. Com a iminência de restrições ocidentais às exportações chinesas, encontrar compradores para esses produtos está no topo da agenda de Pequim, que acolhe a partir desta quarta-feira a nona Cimeira do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC).
A China, o maior credor bilateral do mundo, já começou a ajustar as condições dos seus empréstimos ao continente, reservando mais para parques solares e centrais eléctricas, enquanto reduz as infra-estruturas de grande escala.
Luanda não está à procura de mais empréstimos, afirmou Vera Daves de Sousa, preferindo “encontrar um novo paradigma em que façamos mais com base no envolvimento do sector privado e através de parcerias público-privadas. Precisamos de parar de pensar fora da caixa, porque as soluções simples de ‘tu dás-me dinheiro, eu dou-te garantias’ estão ultrapassadas”.
Fonte: Reuters