Responsáveis africanos reunidos em Abidjan, numa conferência sobre alterações climáticas e desenvolvimento, defenderam esta terça-feira (4) a necessidade de usar os recursos naturais, como o petróleo e gás, para garantir financiamento adequado para a transição energética.
“O financiamento climático continua incrivelmente insuficiente; os 100 mil milhões de dólares anuais prometidos anualmente em 2009 só foram atingidos em 2022, ficando muito abaixo dos estimados 1,3 biliões de dólares necessários para sustentar a acção climática global”, apontou a secretária executiva adjunta da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), Hanan Morsy.
O financiamento climático global para a adaptação “devia duplicar até 2025 mas está a regredir, pondo em perigo os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os investimentos em curso na resiliência às alterações climáticas”, observou a representante.
Hanan Morsy falava durante a 12.ª conferência sobre Alterações Climáticas e Desenvolvimento (CCDA), que decorre esta semana em Abidjan, organizada por vários organismos internacionais, coincidindo com a Conferência Ministerial Africana sobre o Ambiente (AMCEN), e antecipando a conferência mundial da ONU sobre o ambiente (COP29), que decorre em Novembro em Baku, no Azerbaijão.
“A luta contra as alterações climáticas é o maior desafio que a humanidade enfrenta desde o século passado”, afirmou o ministro do Ambiente da Costa do Marfim, Jacques Assahoré Konan, sublinhando que ”o continente sofre um impacto desproporcionado das alterações climáticas, para as quais contribui apenas com 4%”.
Por isso, explicou o ministro, “a adaptação a estes efeitos adversos é uma grande preocupação no continente, e garantir um financiamento adequado é crucial”.
Na conferência, sob o lema ‘Financiar a Adaptação Climática e a Resiliência em África’, Hanan Morsy defendeu que “sem um investimento substancial na adaptação, África não pode aproveitar as oportunidades para a criação de emprego, crescimento verde e prevenir as perdas”.
A também economista-chefe da UNECA acrescentou que o continente não tem a liquidez necessária para fazer os investimentos que permitem a transição energética, principalmente porque, com o crescente peso da dívida, “muitos países africanos gastam cinco vezes mais no serviço da dívida do que na acção climática”.
O acesso a recursos financeiros necessários para a transição foi também abordado pela directora do programa africano no Instituto Carnegie Endowment for International Peasse, Zainab Usman, num artigo de opinião publicado nesta terça-feira no britânico Financial Times.
Os países africanos produtores de petróleo, como Angola ou a Guiné Equatorial, não estão a colher os efeitos da subida dos preços do petróleo desde a pandemia de covid-19, escreve Zainab Usman.
“Apesar de os preços do petróleo estarem altos desde 2021, a maior parte dos produtores petrolíferos não está a registar uma melhoria nas economias. A curto prazo, isto afecta as suas posições orçamentais e, a longo prazo, vai reduzir o acesso a recursos financeiros necessários para implementar projectos de desenvolvimento e migrar para economias com baixas emissões”, lê-se no artigo.
Para esta especialista, é certo que o mundo terá de reduzir a produção e consumo de combustíveis fósseis, um “processo doloroso”, mas “a transição energética pode ser ainda mais problemática para África se as nações não forem capazes de capturar e reinvestir os lucros dos seus recursos naturais no financiamento do seu próprio desenvolvimento”.
Fonte: Lusa