Adriano Jonas, director-executivo da Sociedade Nacional de Transporte de Energia (STE), é responsável pela gestão da Linha de Transporte Temane-Maputo. O projecto está bem encaminhado, tanto ao nível da conformidade das obras, como do cumprimento de prazos: daqui a cinco meses, o País vai dispor de um importante reforço no abastecimento de energia.
A STE é um braço empresarial da Electricidade de Moçambique (EDM), criada para desenvolver infra-estruturas de transporte de energia como é o caso das linhas de alta tensão. Porquê? Adriano Jonas explica que, na altura da concepção da empresa, estavam em cima da mesa projectos de produção de energia como Mphanda Nkuwa (1500 MW), Cahora Bassa Central Norte (1250 MW), Boroma (165 MW), Lupata (520 MW), etc., com um volume total de produção previsto, na bacia do Zambeze, a rondar os 3000 MW (mais do que as centrais de Cahora Bassa e Temane juntas). No entanto, o nível de investimento que era necessário para desenvolver infra-estruturas daquela dimensão era tão grande que podia atrapalhar as operações normais da EDM. Foi assim que se decidiu criar um veículo específico para lidar com este tipo de investimento – a STE. Esta empresa tem contas separadas das da EDM e é uma Sociedade Anónima (S.A.), o que permite que todas as operações sejam controladas por uma equipa dedicada, virada para as necessidades dos utilizadores das linhas eléctricas, que são os grandes produtores. O director da STE, Adriano Jonas, reitera que a operacionalização do projecto da CTT é um marco histórico.
As últimas informações apontam para o início da operação comercial da Central Térmica de Temane em Janeiro de 2025. Confirma? E a linha vai estar pronta nessa altura?
O cronograma integrado foi estabelecido de modo que a linha, enquanto parte que viabiliza a central, seja terminada previamente. O objectivo é permitir que, quando estiver concluída, a Central tenha tudo pronto para desenvolver as suas operações. O cronograma inicial apontava para que, em finais de 2024, arrancasse a operação comercial. No entanto, devido a vários factores, incluindo os ciclones (três desde o início do projecto), o cronograma foi alterado. Prevemos agora que a Central comece a funcionar em Janeiro de 2025. Neste momento, tudo está alinhado, a apontar para esse prazo, apesar do impacto do último ciclone, em Abril. E temos informação de que a parte do fornecimento de gás para a central térmica produzir electricidade também está bem encaminhada.
Qual é a importância da energia que será fornecida ao mercado nacional e qual será o relevo do excedente para a exportação?
O conceito geral é este: nos primeiros quatro a cinco anos, a maior parte da energia (cerca de 70%) deve ser exportada e, à medida que as necessidades do País aumentarem, vai-se reduzindo essa proporção. Os restantes 30% servirão para suprir a procura nacional. Neste momento, somos praticamente auto-suficientes, tirando alguns momentos, em horas de ponta. Além disso, internamente, há vários projectos que a EDM está a desenvolver para reforçar a capacidade de transporte de energia, o que possibilita a ligação de novos consumidores. É assim que o consumo nacional vai sendo ajustado.
Em que se baseia a “filosofia” de vender o excedente? O País não enfrenta ainda um défice considerável de energia?
Há várias vertentes. Uma delas tem que ver com o próprio negócio, ou seja, quando exportamos, geramos divisas necessárias para fazer face à situação económica da empresa. Por exemplo, todo o material que a STE usa é importado. Ter divisas é fundamental. Olhando para as necessidades internas, verá que não temos muito défice de produção, mas sim de infra-estrutura. Ainda que tenhamos a central térmica, para chegarmos aos centros de consumo é preciso realizar um grande investimento [na rede]. Portanto, o défice energético interno não deve ser visto sob o ângulo da produção, mas sobre como fazer chegar a energia aos consumidores. Na região norte do País, por exemplo, há uma grande expansão industrial, mas as nossas linhas de transporte [de electricidade] estão todas no limite. Por isso, estamos a construir uma linha de 400 kv [alta tensão] de Chimwara para Nacala.
Em que medida este projecto ajudará a alcançar a meta de acesso universal à energia eléctrica, agendada para 2030?
Alcançar o acesso universal implica a conjugação de vários componentes. Por exemplo, ao nível da produção, 450MW [capacidade da Central de Temane] representam cerca de 14% da capacidade instalada no País, o que é um contributo muito grande. Os 560 quilómetros de linha [entre Temane e Maputo] e as quatro subestações que estão a ser instaladas vão permitir que, futuramente, se possa alcançar um milhão e meio de novas ligações.
Em que fase está exactamente a construção da linha de transporte e das subestações?
Em termos de progresso físico, temos o projecto executado a 98%. Ou seja, no que diz respeito à construção e montagem, está tudo feito. As duas linhas de Temane para Pambara foram entregues pelo empreiteiro em Abril. A linha Pambara para Chibuto será entregue dentro de dias e os testes demonstram que a infra-estrutura está em condições. Do lado de Maputo, todas as linhas estão concluídas, incluindo as quatro subestações. Decorrem testes finais, uma demonstração feita pelos empreiteiros. Estes testes também servem para detectar eventuais anomalias, por forma que sejam corrigidas, num processo que esperamos ver concluído em meados de Agosto.
Por se tratar de um projecto estruturante, o presidente do conselho de administração da EDM, Marcelino Gildo Alberto, chegou a falar da necessidade de formar quadros nacionais para operar a central. O que está a ser feito neste sentido?
A disponibilidade de pessoas é muito grande. A questão está na capacitação. Nós estamos na fase final de enquadramento do pessoal que será responsável pela operação e manutenção das linhas. É o primeiro projecto que construímos desta dimensão e complexidade enquanto empresa pública (EDM), por isso, é necessário um processo de formação muito especializado. Isto está a acontecer, mas terá de ser complementado. Diria que vai levar algum tempo até nos tornarmos autónomos. Nos primeiros três a quatro anos teremos uma mistura de trabalhadores nacionais (em maioria) e especialistas expatriados, que vão assegurar a transferência de conhecimento. Há consultorias que estão a ser mobilizadas para nos ajudarem a conceber, estruturar e pôr em prática todo um programa de formação.
Qual é o ‘staff’ em formação para operar o projecto no seu todo?
Há um conjunto de pessoal inicial básico, que entendemos ser o mínimo, 25 a 30 pessoas, que vão ser distribuídas pelas quatro subestações e pelas linhas, sem contar com o pessoal que estará na Central. Estamos a falar de engenheiros e técnicos. Se incluirmos trabalhos de manutenção das linhas, vamos dar oportunidades de trabalho sazonal a pessoas das comunidades ao longo da linha.
A EDM estabelece relações estreitas com a Globeleq neste empreendimento e noutros projectos, incluindo na área das energias renováveis. Como olha para o futuro desta parceria e para os resultados que se pretendem?
Serão muitas as oportunidades que a parceria que temos com a Globeleq irá trazer. Houve um processo público de selecção, abrangente e transparente, que identificou a Globeleq como melhor parceiro para este tipo de investimento, tendo em conta o valor acrescentado que traz em termos de conhecimento, robustez financeira, entre outros aspectos. A mesma avaliação acabou por acontecer na área das energias renováveis, em relação à central fotovoltaica de Cuamba, na província do Niassa. Há outras iniciativas que estão a ser desenvolvidas e esta parceria tem sido muito interessante. Tem possibilitado mobilizar e realizar investimentos que, de outra forma, não teriam sido possível concretizar.
Texto: Celso Chambisso • Fotografia: Nário Sixpene