O director de pesquisa da consultora Oxford Economics Africa considera que a China vai manter um papel predominante nas economias africanas, nomeadamente na reestruturação da dívida, numa análise sobre o próximo Fórum de Cooperação China-África (FOCAC).
“O 9.° FOCAC vai definir a direcção e o foco dos empréstimos, subvenções e créditos à exportação para os países africanos, e é particularmente importante nesta altura devido ao papel primordial que a China está a desempenhar nos processos de reestruturação da dívida externa de vários países africanos, como a Etiópia e a Zâmbia”, afirmou o director da consultora Oxford Economics Africa, Jacques Nell, em declarações à Lusa.
Para o representante, “a China tem apoiado os países africanos em termos de alívio da dívida e reprogramação de pagamentos desde antes dos processos de abordagem dos credores apresentados pelo G20, e continua a desempenhar um papel importante nos processos de reestruturação da dívida externa após a pandemia de covid-19”.
A elevada dívida externa dos países africanos, principalmente quando analisada em termos do rácio sobre o Produto Interno Bruto e sobre as receitas fiscais, tem levado muitos analistas a alertar para a existência de uma crise da dívida africana.
O Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) defendem uma reformulação da arquitectura financeira mundial e a introdução de mecanismos de alívio ou perdão de dívida para os países sobreendividados, que abrangem mais de metade das nações africanas.
Influência Chinesa em África
Questionado sobre a importância da China, o maior credor do continente e o maior credor externo de países como Angola, Jacques Nell respondeu que os chineses têm ajudado os países africanos, mas diz que há alguma dualidade do papel do país asiático em África e lembra críticas por causa da confidencialidade dos contratos financeiros.
Estes contratos, segundo os críticos, dão origem a especulações sobre as condições prejudiciais e favorecem a ideia de uma “armadilha da dívida”, em que os fluxos financeiros eram acompanhados de uma influência geopolítica e económica nesses países e de duras represálias em caso de incumprimento financeiro.
“As cláusulas de confidencialidade introduzem alguma incerteza sobre as modalidades do alívio da dívida, especialmente porque já existem vários processos de reestruturação em curso, o que demonstra a dualidade do papel da China em África – por um lado, os chineses oferecem alívio da dívida e fazem investimentos, o que é muito necessário, mas, por outro, os termos da maioria dos acordos estão rodeados de sigilo, o que por si só é criticável”, concluiu o analista.
O fórum, com o tema ‘Unir as Mãos para avançar a modernização e construir uma comunidade de alto nível sino-africana com um futuro partilhado’, realiza-se de 4 a 6 de Setembro em Pequim, com reuniões actualmente em curso, e contará com a presença do Presidente da China, Xi Jinpingm, e delegações, entre outras, de países africanos de língua portuguesa.
O evento apresenta-se como “uma plataforma para um diálogo colectivo, unindo a China com a Comissão da União Africana e com os 53 países do continente que mantêm relações diplomáticas com o país asiático”, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Fonte: Lusa