António Souto, economista e fundador da Sociedade de Investimentos Gapi, defendeu esta quinta-feira (22) que a digitalização e as micro finanças são “ferramentas essenciais” para promover a inclusão financeira em Moçambique.
As declarações foram feitas no seminário sobre digitalização e micro finanças na inclusão financeira, realizado em Maputo, promovido pela Câmara de Comércio de Moçambique (CCM), em parceria com a New Faces New Voices (NFNV), a Associação Moçambicana de Operadores de Microfinanças (AMOMIF) à qual preside e a Gapi SI (da qual é fundador e antigo PCE), tendo reunido especialistas e actores do sector financeiro para abordar estratégias e soluções de desenvolvimento.
Durante a sua intervenção, António Souto destacou que “a digitalização não é apenas uma tendência global; em Moçambique, é uma prioridade se quisermos incluir as populações rurais e de baixa renda no sistema financeiro”. Segundo o economista, através das microfinanças, há uma oportunidade única de levar serviços financeiros a segmentos marginalizados que, de outra forma, não teriam acesso a crédito ou seguros.
E o actual presidente da AMOMIF alertou para os riscos de desigualdade que podem surgir se o sector financeiro não for devidamente orientado para a inclusão. “A concentração excessiva na banca comercial tem agravado as desigualdades sociais”, afirmou. Para o economista, as micro finanças oferecem uma solução alternativa e viável para garantir que os serviços financeiros cheguem às populações mais vulneráveis, sublinhando que “um sector financeiro grande não significa que seja inclusivo”.
O seminário também abordou a necessidade de modernizar as micro finanças através de parcerias estratégicas com fintechs, um movimento que António Souto considera fundamental para melhorar a eficácia do sistema financeiro. “A cooperação entre as micro finanças e as fintechs é o futuro”, defendeu, acrescentando que “com as tecnologias digitais, podemos expandir o alcance dos serviços financeiros, até mesmo para as áreas mais remotas do País”.
Reflectindo sobre a transformação digital em curso em Moçambique, o também fundador da GAPI SI. salientou que o caminho a seguir deve envolver projectos concretos que ajudem, não só na inclusão financeira, mas também na formalização de micro negócios. “Este seminário marca o início de uma reflexão mais profunda sobre como as micro finanças podem contribuir para a inclusão financeira, especialmente no que diz respeito ao empoderamento da mulher”, destacou. As instituições organizadoras, segundo ele, vão formar um consórcio com o objectivo de “realizar intervenções complementares focadas na capacitação das mulheres empreendedoras, proporcionando-lhes melhor acesso a serviços financeiros, suportados por ferramentas digitais”.
“Este consórcio será uma peça-chave para o nosso próximo passo: a implementação de projectos que promovam a inclusão financeira, com especial atenção à mulher empreendedora”, sublinhou. António Souto reafirmou ainda que “estamos a falar de criar oportunidades reais para que as mulheres possam fazer crescer os seus negócios e formalizar as suas actividades”, destacando o compromisso das entidades envolvidas em trabalhar juntas para o desenvolvimento sustentável de Moçambique.
Durante o workshop, foi também destacada a importância de auscultar as diversas instituições interessadas na agenda da inclusão financeira. O consórcio irá debater com especialistas do sector para garantir uma melhor preparação na implementação do programa. “Queremos construir um futuro em que as fintechs, as micro finanças e o Governo estejam alinhados na missão de reduzir as barreiras ao acesso financeiro”, afirmou António Souto. “Este debate é essencial para garantir que todos estão preparados e comprometidos com o sucesso desta missão.”
Gestão do Endividamento Público
O economista aproveitou ainda o momento para alertar sobre a responsabilidade de gerir o endividamento público de forma mais prudente, sublinhando que Moçambique enfrenta desafios significativos nesse campo. “A dívida pública tem crescido a um ritmo preocupante, o que está a limitar os recursos para sectores essenciais como a saúde, educação e agricultura”, disse. “Precisamos de uma gestão mais eficiente e inclusiva do endividamento, que promova o desenvolvimento sustentável”, acrescentou.
Este seminário, que contou com a presença de várias personalidades do sector financeiro e da sociedade civil, foi considerado um marco nas discussões sobre a necessidade de integrar tecnologias digitais no sector de micro finanças para promover uma inclusão financeira mais abrangente e reduzir a pobreza em Moçambique. Como concluiu Souto, “a inclusão financeira não é apenas uma questão de desenvolvimento económico, é uma questão de justiça social. Precisamos de garantir que ninguém fica para trás.”
Texto: Felisberto Ruco