O economista-chefe do Millennium bim, Oldemiro Belchior, assinalou recentemente que há de facto “insuficiência” de divisas (moeda estrangeira) no sistema financeiro nacional mas não corrobora da visão de muitos empresários quando apontam para a escassez de moeda externa no País que se faz sentir e está a dificultar a importação de bens e serviços.
Durante um briefing económico organizado pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), na passada quarta-feira, Oldemiro Belchior refutou a ideia de “escassez” de divisas, um termo frequentemente utilizado pelo sector privado. Segundo o economista, a palavra mais apropriada seria “insuficiência”. Contudo, é importante salientar que, no dicionário da língua portuguesa, os termos ‘escassez’ e ‘insuficiência’ são considerados sinónimos.
“Não existe escassez de divisas, mas sim insuficiência. É bom não confundir. Escassez é falta. O mercado não está seco de liquidez, isso não é verdade. Não é possível ter o normal funcionamento de uma economia sem divisas. Mas há insuficiência de divisas, ou seja, o stock de moeda externa disponível no mercado não é suficiente para responder às necessidades de importação de bens e serviços”, explicou Oldemiro Belchior.
O economista também mencionou que a disponibilidade de moeda estrangeira varia de banco para banco, pois as condições não são uniformes em todo o sistema. Oldemiro Belchior acrescentou que “alguns bancos enfrentam mais dificuldades em captar divisas devido a uma carteira menor de exportadores, o que limita a sua capacidade de responder às necessidades de importação”, assinalou.
Apesar da diferença terminológica, a realidade é que muitos agentes económicos que procuram euros, dólares, rands, entre outras moedas, nos bancos comerciais para efectuar importações encontram dificuldades. Os empresários têm criticado o Banco de Moçambique, acusando-o de reduzir a liquidez ao aumentar as reservas obrigatórias em moeda externa como parte da política monetária. No entanto, o banco central tem afirmado que há um excesso de liquidez no sistema.
“Quando o Banco de Moçambique diz que o sistema tem divisas, achamos que é no seu direito de se defender, porque nós, no sector privado, podemos dizer (de forma prática) que o sistema não tem divisas. Por exemplo, tens uma factura de 50 mil dólares para pagar uma importação qualquer, mas não consegues simplesmente. Imagina se for de um milhão de dólares. Em nenhum momento a banca diz que ainda não recebeu divisas, ou que vai receber em uma semana e por isso pode esperar. Diz categoricamente que não tem divisas”, afirmou Aldemiro Eduardo, empresário do sector da construção civil.
Entre os empresários, também se nota que, embora seja difícil encontrar 50 mil dólares no mercado formal, esses valores estão disponíveis no mercado informal. Esta disparidade causa confusão entre os empresários.
A insuficiência de divisas não afecta apenas os importadores, mas também o sector do turismo. No mesmo briefing, Muhammad Abdullah, director-executivo da Cotur (agência de viagens), indicou que pelo menos três companhias aéreas decidiram não iniciar voos para Moçambique no primeiro semestre, entre elas a Air France e a Cathay Pacific (de Hong Kong), devido às dificuldades em repatriar divisas.
“Actualmente, se quisermos viajar pela Air France, não podemos comprar bilhetes em Moçambique, apenas num país vizinho como a África do Sul. Esta situação é preocupante, especialmente considerando as medidas que o Governo tem implementado, como a isenção de vistos e a facilitação de investimentos [no âmbito do Pacote de Medidas de Aceleração Económica]”, comentou.
Além da Air France e da Cathay Pacific, Abdullah mencionou que a Ethiopian Airlines e a Qatar Airways também enfrentam sérias dificuldades para repatriar divisas provenientes da venda de bilhetes e ameaçam cancelar os seus voos para Moçambique. “A situação das divisas é crítica. Algo precisa de ser feito antes que atinjamos um ponto insustentável, especialmente no sector das viagens”, alertou o empresário.
De acordo com a inforrmação, segundo a CTA, a escassez ou insuficiência de divisas no sistema pode estar relacionada com o facto de o Banco de Moçambique ter deixado de partilhar a factura de importação de combustíveis a partir de meados de 2023. É importante mencionar que a falta de divisas é sentida não só pelo sector privado, mas também pelo Fundo Monetário Internacional, salientou a fonte.