Apesar de se prever que o mercado de petróleo e gás de África cresça mais de 5,5% anualmente até 2027, os operadores e investidores continuam a enfrentar prazos alargados desde o início do projecto até à primeira produção. Para o continente acelerar estes prazos, é crucial, para maximizar os retornos, manter uma vantagem competitiva e garantir a entrega atempada de recursos para satisfazer a crescente procura de energia.
O Fórum Invest in African Energy (IAE) – que terá lugar em Paris de 13 a 14 de Maio de 2025 – identificará e explorará estratégias para acelerar os prazos de desenvolvimento de projectos, ao unir ministérios de energia africanos, reguladores e empresas petrolíferas nacionais com os principais intervenientes do sector privado.
Aproveitando o conteúdo e a experiência local
Um dos desafios no sector do petróleo e do gás em África é a dependência de conhecimentos especializados estrangeiros, o que pode causar atrasos devido a desafios logísticos e à necessidade de autorizações de trabalho para expatriados. Ao investir no desenvolvimento de talentos locais e utilizar conteúdos locais, as empresas podem reduzir a sua dependência de mão-de-obra e materiais estrangeiros. Isto não só encurta os prazos, como também fortalece as economias locais e cria capacidades nos países de acolhimento. O estabelecimento de parcerias com instituições educativas locais para formar engenheiros, geólogos e gestores de projectos pode criar uma força de trabalho qualificada, capaz de impulsionar o desenvolvimento de projectos.
Em Julho de 2024, os accionistas do Oleoduto de Petróleo Bruto da África Oriental (EACOP, na sigla em inglês), avaliado em 5 mil milhões de dólares, assinaram um memorando de entendimento com a Universidade Makerere em Kampala para apoiar o conhecimento e o desenvolvimento de capacidades entre os recém-licenciados e técnicos do Uganda, oferecendo formação e exposição profissional aos fornecedores e empreiteiros da EACOP. A Nigéria deu também prioridade à colaboração em iniciativas de educação STEM – abordagem multidisciplinar completa que favorece a aprendizagem das ciências exactas – e no desenvolvimento de infra-estruturas através do seu Conselho Nigeriano de Desenvolvimento e Monitorização de Conteúdos, enquanto a Gâmbia delineou uma política de conteúdo local que facilita a parceria entre entidades públicas e empresariais para promover investimentos locais e oportunidades de emprego.
Simplificando processos regulatórios
Os processos de aprovação regulamentar podem muitas vezes ser demorados, causando atrasos nos cronogramas dos projectos. A simplificação destes processos para eliminar estrangulamentos burocráticos desnecessários, a implementação de quadros regulamentares claros e transparentes, a definição de prazos definitivos para aprovações e a adopção de plataformas digitais para uma comunicação mais rápida entre reguladores e empresas podem reduzir significativamente os atrasos.
Os governos podem também explorar a criação de agências reguladoras completas que consolidem vários processos de aprovação sob o mesmo tecto, minimizando assim o tempo de navegação através de diferentes organismos reguladores. A Guiné Equatorial estabeleceu um balcão único que permite aos investidores criar um negócio numa semana, enquanto a plataforma “InvestSA” da África do Sul serve para facilitar o investimento, acelerar projectos e reduzir a burocracia governamental. No início deste ano, Angola implementou um balcão único para a conformidade do conteúdo local na indústria do petróleo e do gás, aumentando a transparência e a implementação de políticas em todo o sector.
Reforçar as Parcerias Público-Privadas
As Parcerias Público-Privadas (PPP) podem desempenhar um papel vital na aceleração dos prazos dos projectos, através da partilha de riscos, recursos e conhecimentos especializados. Os governos podem incentivar as PPP oferecendo incentivos como os fiscais, redução de royalties ou aprovações aceleradas para projectos que envolvam investimentos significativos do sector privado. Além disso, promover um ambiente colaborativo em que ambas as partes possam discutir abertamente os desafios e as soluções pode levar a uma execução mais eficiente dos projectos. As PPP são particularmente eficazes no desenvolvimento de infra-estruturas, onde as empresas privadas podem trazer tecnologia avançada e conhecimentos especializados para acelerar as fases de construção e operação.
Investir em infra-estrutura e tecnologia
As limitações de infra-estruturas, tais como redes de transporte inadequadas e fornecimento de energia insuficiente, são causas comuns de atrasos no desenvolvimento de projectos em todo o continente. Investir nas infra-estruturas necessárias, de forma independente ou através de parcerias com os governos locais, pode eliminar estas barreiras. Além disso, a adopção da mais recente tecnologia na exploração, perfuração e produção pode reduzir significativamente o tempo necessário para cada fase de um projecto. Tecnologias como imagens sísmicas 3D, sistemas de perfuração automatizados e gémeos digitais podem melhorar a precisão, reduzir erros e agilizar as operações, levando a uma conclusão mais rápida do projecto.
Garantindo a preparação financeira
Os atrasos financeiros constituem um grande risco para os prazos dos projectos, especialmente dada a natureza intensiva de capital da indústria do petróleo e do gás. Isto exige que as empresas garantam o financiamento necessário antes de lançarem projectos de grande escala – não só obtendo financiamento de bancos tradicionais e fontes de empréstimo, mas também explorando mecanismos de financiamento alternativos, como fundos soberanos, instituições financeiras de desenvolvimento e mercados obrigacionistas.
Em Junho de 2024, a Invictus Energy da Austrália angariou 10 milhões de dólares para o desenvolvimento do projecto de petróleo e gás de Cahora Bassa no Zimbabué junto de uma empresa de capital privado local e do fundo soberano do país. Um plano financeiro robusto que inclua fundos de contingência pode ajudar a mitigar os riscos e a garantir que os projectos continuam a avançar mesmo face a desafios financeiros imprevistos.
Fonte: Energy Capital & Power