O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) está à procura de 290 mil toneladas de milho em países tão distantes como o México e a Ucrânia, para dar a maior resposta de sempre à seca na África Austral, depois de o fenómeno meteorológico El Niño ter devastado as colheitas em toda a região.
Com as colheitas de milho básico do Zimbabué a caírem cerca de 70% e as da Zâmbia e do Maláui também dizimadas, o PAM está a tentar angariar cerca de 400 milhões de dólares para financiar a sua resposta. Embora normalmente dependesse da África do Sul para o abastecimento de milho, habitualmente o maior exportador do continente, a colheita desse país também caiu cerca de um quinto, limitando a quantidade de cereais disponíveis para exportação.
A ajuda à África Austral é difícil porque os habitantes da região comem principalmente milho branco em vez da variedade amarela que é popular noutros locais, e muitos países proíbem a importação de cereais geneticamente modificados, a menos que sejam moídos. Ainda assim, há 27 milhões de pessoas em sete países que necessitam de assistência desde o final deste ano até Março de 2025, afirmou Valerie Guarnieri, directora-executiva adjunta para o desenvolvimento de programas e políticas da agência.
“Estamos definitivamente a ter de ir para além da região para obter o milho branco que procuramos para a nossa resposta”, vincou a fonte numa entrevista em 2 de Agosto no escritório da Bloomberg em Joanesburgo, depois de regressar de uma viagem ao Zimbabué. “Estamos à espera de importar de países tão distantes como o México para esta resposta”, acrescentou.
O PAM tem alguns concursos para o fornecimento de milho branco do México, um dos poucos países que cultiva quantidades substanciais desta variedade, e espera comprar cerca de 100 mil toneladas ao país. Pretende também obter a mesma quantidade da Tanzânia, que teve uma colheita abundante nesta época, e “pequenas quantidades de milho amarelo moído da Ucrânia”.
Embora a região tenha recebido doações de milho de países como os Estados Unidos da América (EUA) em secas anteriores, Valerie Guarnieri referiu que esta é a primeira vez que se lembra de a organização tentar trazer grãos do México em transacções comerciais.
O PAM só atenderá a uma parte da demanda da região, embora também use a sua experiência para ajudar os países a adquirir milho. O que estiver disponível na África do Sul poderá ser comprado pelos Governos dos países vizinhos, apontou a representante. Na campanha de comercialização que começou a 27 de Abril, a África do Sul exportou quase 346 mil toneladas de milho branco para os países vizinhos, mais de metade das quais para o Zimbabué, e exportou 179 mil toneladas de milho amarelo, 54% das quais foram compradas pelo Zimbabué, de acordo com o Serviço de Informação sobre cereais da África do Sul.
O Zimbabué fez saber que vai precisar de importar 1,4 milhões de toneladas de milho, estando, para isso, a interrogar a Rússia, Brasil, México, Argentina e EUA. O Governo de Botsuana afirmou que está à procura de importações do Brasil, enquanto a Zâmbia está a procurar 650 mil toneladas da Tanzânia.
Valerie Guarnieri disse que o PAM começará a prestar apoio na chamada época de escassez, quando as colheitas locais se esgotam, já em Outubro deste ano, em comparação com o período entre Janeiro e Março das respostas anteriores. O início antecipado deve-se à gravidade da seca deste ano.
Os pesados encargos da dívida e as perturbações económicas em alguns países da região também limitaram a capacidade de resposta das nações, afirmou.
“Eles estão a abordar esta seca histórica num espaço fiscal difícil”, afirmou Guarnieri.
A seca, a pior dos últimos 40 anos em alguns países, foi agravada pelas alterações climáticas, explicou Reena Ghelani, secretária-geral adjunta das Nações Unidas, numa entrevista no Zimbabué.
“Esta região tem assistido a secas uma vez em cada década ou mais. Estamos a assistir a mais secas devido à situação climática e alguns cientistas dizem que vamos assistir a secas mais frequentes”, referiu a responsável, que é também a coordenadora da crise climática para a resposta ao El Niño/La Niña na ONU.
Em Maio, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, constituída por 16 países, lançou um apelo no sentido de serem concedidos 5,5 mil milhões de dólares em assistência humanitária.
Fonte: Club Of Mozambique