No que à igualdade de género diz respeito, uma pesquisa no portal Diário Económico é elucidativa sobre as vozes que se erguem em busca do equilíbrio de oportunidades. São várias as iniciativas já anunciadas e em vigor. Conheça algumas das mais recentes.
E m Abril deste ano, por ocasião da comemoração do Dia da Mulher Moçambicana, a vice-presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Maria Abdula, mencionou o crescente número de pequenas e médias empresas (PME) sob gestão de mulheres em Moçambique, agora com um peso de 60%, como um avanço a ter em conta. É um ganho que contraria todas as barreiras de acesso ao financiamento, obstáculo que incide mais sobre as mulheres. Só por si, este dado mostra o quanto a mulher está a conquistar espaço decisivo no panorama do desenvolvimento socioeconómico de Moçambique.
Mas este avanço não é resultado de um mero acaso. São muitas as iniciativas de apoio às mulheres em Moçambique. Em termos de sectores, a banca lidera nas medidas de assistência à emancipação feminina, com linhas de financiamento direccionadas para investimentos de mulheres.
Uma iniciativa de inspiração
“O que fazem de diferente as mulheres que conseguem chegar ao topo na liderança de grandes organizações?” Sob este tema, ainda em Abril deste ano, o Access Bank Mozambique juntou várias mulheres, com destaque para especialistas experientes como Gladys Gande, gestora sénior de consultoria empresarial na Ernst & Young e vice-presidente da New Faces New Voices (NFNV), e a secretária-geral da Ordem dos Engenheiros e presidente do conselho fiscal da NFNV, Carlota Salomão, para abordarem a capacitação em cargos de liderança. Ambas partilharam as suas próprias experiências de liderança, promovendo um momento de inspiração. “Em tudo o que fizermos, devemos dar mais de 100%, ir além daquilo que é esperado. É aí que começamos a crescer, a agregar valor à instituição e a destacarmo-nos no mercado de trabalho”, afirmou, na ocasião, Gladys Gande.
Já Carlota Salomão realçou o facto de muitas mulheres enfrentarem desafios em cargos de chefia, como a falta de representação, estereótipos de género e grandes barreiras profissionais. “É crucial que as mulheres continuem a lutar pela sua valorização e aceitação na sociedade”, enfatizou, dando a entender que grande parte das mudanças necessárias devem ser da iniciativa das próprias mulheres. Mas há muitas que não começam com elas e, mesmo assim, têm grande impacto.
Apoio financeiro às mulheres
Em Dezembro do ano passado, o Banco Europeu de Investimento (BEI), em coordenação com o Moza Banco, anunciou 10 milhões de euros a favor das PME lideradas por mulheres em Moçambique. “O instrumento oferecerá empréstimos com condições favoráveis, direccionados para empresas que pertencem a mulheres ou são por estas lideradas”, revelava, na altura, um comunicado emitido pelo Moza Banco.
O crédito, que resulta da iniciativa EIB Global (direcção do Banco Europeu de Investimento que actua fora da União Europeia), vai apoiar empresas ligadas à indústria transformadora, à agricultura e à saúde. “A emancipação económica das mulheres é essencial para o desenvolvimento de um país”, afirmou, na altura,
o vice-presidente do BEI, Thomas Östros. Em Abril deste ano, o Moza Banco voltaria a cimentar o seu compromisso para com a causa da emancipação da mulher, lançando o projecto Moza Women, através do qual pretende transmitir, publicamente, o seu reconhecimento em relação à importância da mulher em todas as esferas sociais e de desenvolvimento do País.
Trata-se de um projecto cuja base para elaboração teve em conta o panorama social moçambicano, caracterizado por um ambiente em que, apesar de representarem a maioria da população, as mulheres ainda enfrentam dificuldades, incluindo questões de ordem sociocultural.
Moza Women, do Moza Banco
Através deste projecto, o banco pretende congregar todas as soluções bancárias direccionadas à mulher, incluindo linhas de financiamento bonificadas, criadas especificamente para potenciar a emancipação, num pacote conjunto que passa a denominar-se Moza Women. Embora a promoção das iniciativas ligadas ao Moza Women decorra ao longo deste ano de forma permanente, o projecto contempla uma componente social e reputacional, servindo como um “grito público” do banco, para que todas as mulheres saibam que podem contar com a instituição, independentemente da sua posição, categoria ou status social.
“No dia-a-dia, vemos a mulher moçambicana a levantar-se e a seguir os seus sonhos, sem se intimidar com os obstáculos que surgem ao longo da caminhada. Vemos a manifestação da resiliência e do querer, de um grupo social que movimenta a economia a vários níveis. E nós, justamente porque testemunhamos com admiração e estima a luta das mulheres, procuramos sempre estar entre elas”, referiu o PCE do Moza Banco.
BCI e CDM no apoio à mulher líder
Ainda em Abril, o BCI acolheu um workshop dedicado às mulheres na liderança, uma iniciativa promovida pela Cervejas de Moçambique (CDM). Durante a sessão de abertura, o presidente da Comissão Executiva do BCI, Francisco Costa, admitiu que “quanto mais a sociedade for capaz de compreender esta questão e de valorizar a mulher, mais facilmente a liderança das mulheres será aceite”. E acrescentou que “existe um número muito significativo de mulheres em posições-chave no BCI, com estas a contribuírem de forma muito clara para o sucesso da instituição”.
Este evento contou também com a presença de mulheres líderes, como Vitória Diogo, deputada da Assembleia da República, na qualidade de ‘keynote speaker’, que falou sobre os desafios enfrentados pelas mulheres nos cargos de liderança no meio corporativo. “Vamos desmistificando esta realidade [desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres] através da capacidade de o podermos provar, com uma resposta melhor, em tudo o que fazemos e em tudo o que nos é confiado”, disse Vitória Diogo.
Coca-Cola e a causa da inclusão
Em Março, a Coca-Cola Beverages Africa (CCBA) anunciou o seu apoio à promoção da inclusão económica das mulheres em África, reconhecendo o papel crucial que desempenham no desenvolvimento socioeconómico do continente. No âmbito do Dia Internacional da Mulher, Tshidi Ramogase, directora de Relações Públicas, Comunicação e Sustentabilidade da CCBA, afirmou que a empresa está comprometida em criar oportunidades para as mulheres em toda a cadeia de valor.
Nos últimos anos, a CCBA tem estado a implementar uma série de iniciativas em vários países africanos para capacitar e apoiar as mulheres empreendedoras. Em Moçambique, por exemplo, apoiou um programa de inclusão económica para mulheres colectoras de resíduos plásticos, oferecendo formação e promovendo a reciclagem nas comunidades. Na Tanzânia, foi lançado o programa Mwanamke Shujaa, que ofereceu formação em áreas como a contabilidade e gestão de negócios para mulheres vendedoras de alimentos. Na Etiópia, o programa “Mulheres na Engenharia” oferece estágios para estudantes do sexo feminino, proporcionando-lhes oportunidades de desenvolvimento profissional. Além disso, a CCBA colabora com organizações locais, como a Girls in Science and Technology (GIST) no Gana, para promover carreiras em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) entre as mulheres. Na África do Sul, foi estabelecido um fundo de bolsas de estudo para apoiar estudantes de engenharia do sexo feminino de meios desfavorecidos.
Vodacom apoia a formação
Muitas iniciativas estão também orientadas para a capacitação da mulher em termos de competências, uma área determinante para a competitividade da sua força de trabalho. Em finais de Maio deste ano, a operadora móvel Vodacom Moçambique relançou o seu Programa de Bolsas de Estudo STEM para jovens mulheres interessadas em construir carreiras nas áreas digitais e tecnológicas.
Trata-se de uma iniciativa que, na sua segunda edição, disponibilizou 60 bolsas de estudo para formação na área de Analítica Empresarial (Business Analytics). A oportunidade abrangeu interessadas com nacionalidade moçambicana, dos 20 aos 40 anos de idade e domínio da língua inglesa, condição essencial para uma carreira tecnológica ou na área digital, na actualidade.
Igualdade nas reservas naturais
Ainda em Maio, a Karingani Game Reserve (KGR), uma reserva reconhecida como importante área de conservação ambiental para a protecção da história e das espécies de mamíferos terrestres, realizou uma cerimónia interna para celebrar a importância do potencial da mulher no sector laboral. “Hoje, as mulheres no Karingani trabalham pela protecção e uso sustentável do ecossistema. A Karingani compromete-se a oferecer oportunidades equitativas para ambos os géneros e, consciente das razões históricas para a menor presença feminina em posições de destaque, promove a formação e integração de jovens mulheres na sua força de trabalho”, afirmou o director-executivo da KGR, Mateus Mutemba. Uma das principais iniciativas destacadas foi a mobilização de recursos financeiros pela KGR, que permitiu que 15 raparigas dos distritos de Magude e Massingir beneficiassem de uma formação de 11 meses em hospitalidade e turismo no Southern African College for Tourism (SACT), na África do Sul.
A intervenção do Banco Mundial
Em Setembro de 2023, o Banco Mundial, uma das instituições multilaterais que mais apoiam a causa do desenvolvimento da mulher, prometeu que as raparigas e mulheres jovens moçambicanas terão maior acesso a oportunidades de educação e emancipação económica, graças ao programa de Emancipação e Resiliência das Raparigas da África Oriental e Austral (EAGER). A iniciativa surgiu para impulsionar a educação e os rendimentos de raparigas e mulheres, ao mesmo tempo que ajudará a fortalecer a capacidade institucional dos países beneficiários em implementar políticas de igualdade de género.
“Moçambique é um dos primeiros países a participar nesta iniciativa regional, da qual vai receber 200 milhões de dólares em financiamento. O programa EAGER reúne países que enfrentam desafios semelhantes no empoderamento de raparigas e mulheres”, explicou, na altura, a directora para a Integração Regional, África e Oriente Médio no Banco Mundial, Boutheina Guermazi. Iniciativas há. São suficientes? Pode ser que ainda não, mas há sinais de que o futuro das mulheres, da sociedade e da economia pode mudar para melhor.
Texto: Celso Chambisso • Fotografia: D.R.