Os bancos enfrentam desafios crescentes, impostos pela dinâmica dos mercados, como nunca havia acontecido até hoje – desde a sustentabilidade, assente nos seus três pilares (ESG – Environmental, Social and Governance), até à digitalização dos serviços, passando pela resposta a fenómenos como cibercrimes, branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo. Todos os cenários exigem competências tecnológicas mais fortes. E essa capacidade existe? Os bancos tornaram-se em empresas tecnológicas, com um regulador? As opiniões dividem-se.
Pela primeira vez, os CEO de seis bancos sistémicos – os três maiores de Moçambique e outros três de entre os maiores de África – reuniram-se publicamente naquela que foi a primeira edição do Fórum da Banca, a 18 de Abril, em Maputo. Na agenda estava “A Banca e os Desafios do ESG e da Transição Digital em Moçambique”. No meio do debate, um dos momentos mais vivos surgiu quando os líderes do sector revelaram preocupações com a velocidade a que evoluem os desafios tecnológicos.
Bancos ou empresas de tecnologia?
“Os bancos, hoje, não são apenas bancos, são empresas de tecnologia, mas com um regulador. Sem dúvidas”, disse o CEO do Standard Bank, Bernardo Aparício. “As pessoas não fazem a mínima ideia da quantidade de aplicativos que têm de estar a funcionar só para abrir a porta do balcão. Nós, hoje, somos empresas de tecnologia, com a diferença de que temos um regulador e somos empresas reguladas, ao contrário das empresas de tecnologia. Esta componente (tecnológica) tem sido a que mais cresce em qualquer um dos nossos bancos”, referiu.
“É verdade”, disse João Martins, CEO do Millennium bim, acrescentando dois pontos: “qualquer revista em que uma pessoa pegue, hoje em dia, diz que todas as empresas, não só a banca, têm de ter uma estratégia digital. Mas isso não surge sem custos”, começou por explicar.
Os argumentos do CEO do bim focaram-se mais nas exigências impostas pela segurança. “Ao mesmo tempo que promovemos o acesso do banco aos nossos clientes, ficamos mais vulneráveis a ataques cibernéticos. Por isso, o investimento que fazemos, também para conseguir garantir que somos resilientes, é elevado. Nós não vamos evitar que haja um ataque, porque todos os dias há alguém que nos está a tentar atacar”, referiu. E a seguir sublinhou: “tenho as minhas equipas a ver, permanentemente, o que é que [os invasores] estão a fazer. E os investimentos que fazemos neste aspecto são muito altos”.
Tecnologia pouco explorada
Já o CEO do Access Bank, mesmo percebendo a ironia, apresentou uma visão ligeiramente diferente. “Os bancos, às vezes, têm a mania que são empresas de tecnologia e não são”. Porquê? Marco Abalroado argumenta que “se compararmos um banco a uma plataforma ou uma ‘fintech’, nós exploramos 1% daquilo que podíamos. Seguindo o ciclo de vida do meu cliente, eu sei quando é que ele começou a trabalhar, quanto é que gasta em compras, a que restaurantes vai, mas exploramos muito pouco essa informação”.
Até que ponto a banca e a tecnologia estão entrelaçadas? Este é um dos tópicos a desbravar nas próximas páginas, com um retrato da primeira edição do Fórum da Banca, iniciativa conjunta da Media4Development, publisher moçambicana detentora da revista Economia & Mercado e dos portais Diário Económico e 360º Mozambique, em parceria com a consultora PwC. O evento aconteceu num contexto em que os desafios emergentes de ESG (Ambiental, Social e Governança) e da transição e transformação digital são fulcrais para o desenvolvimento sustentável de Moçambique.
Na sua primeira ronda de debates, o Fórum discutiu o tema “ESG, Inclusão Financeira e a Transição Digital em Moçambique na Perspectiva dos Bancos Sistémicos”, em que participaram os CEO do Standard Bank (Bernardo Aparício), BCI (Francisco Costa) e Millennium bim (João Martins). Já a segunda e última ronda debateu “O Estado da Arte do ESG, a Transição Digital em Curso e os Novos Desafios da Cibersegurança e a Inteligência Artificial”, pelos CEO do Access Bank (Marco Abalroado), FNB (Peter Blekinsop) e o PCA do Nedbank (Manuel Gameiro).
No início, o espaço foi reservado para explorar uma apresentação da consultora PwC sobre “O ESG e a Transição Digital: Riscos, Caminhos e Oportunidades em Moçambique”. Tudo para explorar nas próximas páginas.
Texto: Celso Chambisso & Jaime Fidalgo • Fotografia: Mariano Silva