Os empresários moçambicanos pediram ao Governo medidas severas para travar a onda de raptos que está a afugentar a classe, alertando que o fenómeno descredibiliza o País como lugar certo para investir.
“Vamos eliminar este inconveniente que está a afectar a credibilidade do nosso país, afugentando capitais não só de estrangeiros, mas também de Moçambicanos que, por razões de segurança, se deslocam para outros países”, disse Salimo Abdula, presidente do conselho de administração do Grupo Intelec Holdings e da carteira móvel M-Pesa da Vodacom Moçambique, durante a XIX Conferência Anual do Sector Privado (CASP), que decorreu até ontem 17, em Maputo.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, admitiu que o combate aos raptos que assolam o País, nomeadamente em Maputo e, sobretudo, empresários, requer mais “proactividade”, principalmente na colaboração com o sector privado e outros países.
“Estamos a fazer um trabalho com os países que têm muita experiência neste sentido”, garantiu Nyusi, no discurso da XIX CASP.
Neste contexto, Abdula afirmou que são necessárias medidas urgentes e severas contra raptos, “para se cortar o mal pela raiz”. O empresário defendeu que, caso o Estado não reforce a segurança, há o risco de massificação deste tipo de crime.
“Já começamos a sentir esse impacto, as pessoas nos bairros estão a sofrer, a mente criminosa está a desenvolver-se e crimes de menor índole de preparação começam a acontecer”, alertou.
O mais recente caso de rapto em Maputo deu-se no passado sábado (11), envolvendo um jovem de 29 anos que foi levado por oito homens armados que fizeram disparos na via, indicou, na altura, à Lusa, uma fonte do Serviço Nacional de Investigação Criminal.
De acordo com a agência noticiosa, o rapto deu-se na avenida Joaquim Chissano, junto a um dos estabelecimentos comerciais da vítima, sendo que quatro dos raptores tinham metralhadores AK-47 que utilizaram para disparar. Este foi o segundo rapto de empresários nos últimos 15 dias em Maputo, e pelo menos o quarto conhecido publicamente desde o início do ano.
Salimo Abdula também sublinhou ainda países vizinhos como África do Sul, registam, em média, quatro mil raptos por trimestre.
“Se não tomarmos precauções em Moçambique, o que vai acontecer é que vamos chegar a este nível. Infelizmente, esta é a realidade, têm-se vivido dias menos bons e precisamos de medidas severas”, acrescentou.
Além de afugentar os investidores, os raptos têm afectado o turismo moçambicano, criando receio em quem pretende visitar o País, como admitiu à Lusa o presidente da Cotur, Noor Momade, uma das maiores agências de viagens nacionais. “Qualquer turista, quando vai a um país, normalmente leva a sua família e uma das coisas mais importantes é a sua segurança. E ele foge enquanto não sentir um ambiente saudável para visitar o país”.
A posição é corroborada pelo administrador executivo da United Bank for Africa, Pedro Maranguele, que aponta as consequências nas linhas de crédito, por causa da insegurança. “Os raptos diminuem a atracção de investimento. Sentimos o impacto negativo, por isso esperamos que as autoridades possam trabalhar para trazer um clima de segurança. Sabemos que investidores só metem dinheiro onde terão retorno”, afirmou.
A problemática dos raptos também incomoda os empresários fora de Maputo, que pedem soluções rápidas ao Governo. “O País está a atravessar um momento difícil, primeiro a insurgência em Cabo Delgado, depois os raptos. A falta de segurança tem impacto negativo na retracção dos investimentos”, disse o gestor da indústria de plásticos e calçados INCALA, e também presidente da Associação Empresarial da Zambézia, Inusso Ismael.
O empresário defendeu que tem de haver “vontade de quem está ligado à segurança” para acabar com o problema. “É necessário que a nossa polícia esteja organizada e implacável. E, se calhar, pedir auxílio de países com experiências na luta contra este crime”, defendeu Inusso Ismael, reconhecendo igualmente que há empresários que estão a abandonar o País para apostarem onde se dá segurança à classe empresarial.
“Por isso, devemos encontrar fórmulas de acabar com este mal que só prejudica a nossa economia”, disse.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) registou um total de 185 casos de raptos e pelo menos 288 pessoas foram detidas por suspeitas de envolvimento neste tipo de crime desde 2011, anunciou em Março o ministro do Interior.
“A cidade de Maputo apresenta maior tendência e incidência de casos criminais de raptos, seguida da província de Maputo e, por fim, Sofala, com registo de 103, 41 e 18 casos, respectivamente”, declarou Pascoal Ronda, em 19 de Março.


































































