No passado dia 30 de Abril, o FNB organizou um evento alusivo ao mês da mulher moçambicana, que juntou clientes e colaboradoras do banco para um diálogo inspirador sob o tema “De Mulheres para Mulheres – Empreender e Liderar”. O painel de convidadas, moderado pela directora de Marketing e Comunicação do FNB Cláudia Chirindza, partilhou histórias de sucesso e desafios no universo das carreiras profissionais e de negócios femininos, exaltando as conquistas e a tenacidade de três mulheres de sucesso.
Custódia Mandlhate, primeira médica moçambicana especializada em Psiquiatria e Psicoterapia, actualmente reformada, partilhou a sua visão sobre a igualdade de género na educação, herança de uma educação paternal progressista. Recordou a sua infância num distrito onde a educação formal terminava na quarta classe e como a decisão do seu pai de a enviar para a província de Nampula foi crucial para a continuação dos seus estudos.
A influência do seu pai foi decisiva não só na escolha educativa, mas também profissional, quando desaconselhou a faculdade de Direito devido ao contexto político. “Eu, antes de escolher a Medicina, na verdade queria Direito. Mas foi no tempo colonial e o meu pai desaconselhou-me, porque naquele tempo havia uma conotação política com a faculdade”, recordou.
Neuza de Matos é empreendedora e foi, durante mais de 30 anos, colaboradora no Governo de Moçambique, tendo-se destacado como assessora jurídica de dois Presidentes da República e directora do gabinete do Primeiro-Ministro. Esta fase da sua vida foi marcada por intensos desafios, equilibrando uma carreira profissional exigente com a vida familiar. “É uma carreira cheia de desafios: ser mãe, mulher, funcionária pública, aconselhar grandes figuras do Estado, sem hora para trabalhar e onde é preciso dedicar-se 100 %, com filhos e casa para cuidar”.
Por sua vez, Jeckcy Bonzo, empreendedora e influenciadora digital, partilhou as vicissitudes do seu percurso desde a conclusão do curso de Direito até à sua afirmação no empreendedorismo. Confrontada com o desafio de terminar um curso superior e não encontrar uma oportunidade de emprego, sem ter uma direcção clara, transformou a adversidade em oportunidade, encontrando no empreendedorismo a sua vocação.
Ainda sobre a discussão em torno dos desafios e conquistas femininas, Custódia Mandlhate abordou também a temática do assédio no ambiente de trabalho, destacando a necessidade de uma postura firme e a implementação de normas éticas rigorosas para a protecção das mulheres.
“O que tem de acontecer nos locais de trabalho é haver normas éticas que devem ser respeitadas, sobre a forma de trabalhar e manter o local de trabalho num local seguro para todos” explicou, reforçando que a prevenção do assédio passa por uma gestão eficaz, pela denúncia dos casos, mas também na urgência de mudanças culturais que fortaleçam o respeito e a segurança no ambiente profissional.
Jeckcy reflectiu sobre a percepção errónea de que o empreendedorismo é um caminho fácil e desprovido de obstáculos, uma ideia “muitas vezes romantizada que não corresponde à realidade” dos desafios diários enfrentados pelas empreendedoras.

Jeckcy deixou ainda um conselho a todas as mulheres que pretendem lançar-se no mundo dos negócios: “identifiquem a vossa paixão e pensem em como transformá-la num negócio, façam algo que vos mantenha vivas. Isso é suficiente para manter o ânimo”.
Neuza, por sua vez, reflectiu sobre a transição entre a sua carreira no aparelho do Estado para a de empreendedora. “Saí de um mundo de poder e fui para um mundo de negócio focado em mulheres, mas foi uma transição e não uma quebra. Foi necessário encarar e assumir o desafio, pois acredito que todas temos de encontrar o nosso papel na sociedade”. A sua intervenção chamou a atenção para a importância de fomentar uma cultura de empatia e colaboração entre mulheres, essenciais para o desenvolvimento de um ambiente empresarial mais inclusivo e equitativo.
Finalmente, Custódia Mandlhate voltou a intervir para discutir a preparação para a reforma como um processo que se inicia nos primeiros anos de educação e se estende ao longo da vida.
“Preparar a reforma, na verdade, começa desde que iniciamos o ensino primário”, avançou, sublinhando como uma “gestão financeira prudente e um planeamento a longo prazo são cruciais para garantir um envelhecimento digno e seguro”. Esta perspectiva não apenas encerra a discussão sobre os desafios específicos enfrentados pelas mulheres, como também realça a necessidade de uma visão estratégica sobre a vida profissional e pessoal.
O evento do FNB não celebrou apenas as realizações das mulheres moçambicanas; proporcionou também uma plataforma para um diálogo franco sobre os desafios persistentes, promovendo uma reflexão sobre como os superar colectivamente e avançar em direcção a uma sociedade mais justa e igualitária.