Moçambique está a passar por dois momentos cruciais na história do seu desenvolvimento: por um lado, procura maximizar todas as oportunidades para explorar os abundantes recursos minerais de que dispõe; por outro, enfrenta uma pressão desencadeada pelas agendas internacionais que advogam a necessidade de se migrar para o uso de energias limpas. E com isto, muitas são as iniciativas que as autoridades e parceiros levam a cabo para aproveitar os dois lados.
Neste contexto, instituições como a banca comercial procuram conciliar os dois lados, oferecendo serviços creditícios para viabilizar projectos existentes. A directora corporativa e de Investimentos Bancários do Absa Bank Moçambique, Patrícia Darsan, partilhou a experiência da instituição financeira no financiamento das empresas que operam no sector de petróleo e gás e energia enquanto procura mitigar a pegada na emissão do CO2.
Falando na passada quinta-feira, 2 de Maio, num dos painéis da 10.ª edição da Conferência e Exposição de Mineração e Energia de Moçambique (MMEC 2024), a responsável explicou que os projectos de petróleo e gás requerem investimentos significativos e a banca comercial sozinha não tem capacidade para apoiá-los, mas “temos de ter parcerias com organizações multilaterais e instituições de desenvolvimento, para que os bancos nacionais possam estar presentes e participar nestes projectos de desenvolvimento”.
“Nesta ordem de ideias, há também a necessidade de nós, como sector financeiro, pensarmos nesta questão da transição energética e nos posicionarmos também para apoiar as empresas e autoridades nesta questão da mudança de recursos e da busca daqueles que são mais limpos”, apontou Patrícia Darsan, destacando que “o banco comercial também tem de se posicionar nesta área. “Temos de ser muito proactivos na resposta às várias exigências que o mercado apresenta”.
A responsável do Absa Bank reconheceu igualmente que a agricultura tem também um papel muito importante no desenvolvimento da economia.
“Por isso acreditamos que, de facto, Moçambique tem, nos próximos anos, um grande potencial e grandes oportunidades de desenvolvimento e de se posicionar na região como um grande parceiro para o desenvolvimento. O sector financeiro não pode ignorar este factor e tem de estar posicionado de uma forma que possa apoiar a cadeia de valor, não só do petróleo e gás, mas também as outras cadeias de valor da economia no seu todo”.
Patrícia Darsan

“Estamos muito envolvidos com o sector de petróleo e gás, em particular, e com os sectores relevantes da economia. Temos uma equipa no banco que entende o sector e que procura fornecer as soluções mais eficazes de acordo com os vários objectivos ao longo da cadeia de valor do petróleo e gás e da cadeia de valor do sector energético”, ressaltou, sublinhando que “o nosso papel como banco comercial em Moçambique é também apoiar o desenvolvimento e a sustentabilidade das empresas moçambicanas, olhando muito para o conteúdo local. Temos desenvolvido algumas parcerias nesse sentido”.
Patricia Darsan revelou que o Absa Bank está empenhado em garantir as Pequenas e Médias Empresas (PME) ganhem dinheiro suficiente para se tornarem um sector relevante e possam apoiar a economia do País, não só em termos de serviços para a cadeia de valor do petróleo e gás, mas também nos vários sectores críticos da economia moçambicana.
“Estamos muito empenhados, de facto, em garantir que conseguimos capacitar as PME, para que, de facto, consigam contratos com os grandes projectos. Estamos posicionados para podermos criar as condições necessárias para que os projectos que estão em curso e os futuros que aí vêm possam, de facto, ser apoiados”.
Patrícia Darsan
Necessidade de uma transição energética justa
No painel “Desbloquear o Potencial de GNL de Moçambique: Promover o Investimento Óptimo em Toda a Cadeia de Valor do Gás”, Diego Masera, representante regional (África Austral) da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), explicou: “temos de garantir que a transição é feita de uma forma que beneficie a maioria, especialmente quando vivemos num País onde 70% da população não tem acesso à electricidade”.
Para a fonte, a transição deve ser feita, mas tem de ser orientada pelo princípio de desenvolvimento sustentável e deve dar acesso a oportunidades às pessoas. “Para isso, é necessário um esforço de todos os parceiros que estão hoje aqui reunidos. Este não é apenas o mercado do GNL; estamos a trabalhar juntos para o desenvolvimento da região da África Austral e também para o desenvolvimento sustentável em geral para o mundo”, concluiu.