O alerta consta de um estudo do Banco BiG junto dos principais investidores institucionais do País. No que refere aos negócios, 85% dos gestores estão optimistas quanto ao crescimento e apenas 15% estimam um abrandamento, ou até uma estagnação. Nas recomendações de investimento, 69% dos inquiridos pretendem aumentar a sua exposição em bilhetes do tesouro. E, em sentido contrário, 62% tenciona reduzir o peso das obrigações do tesouro na sua carteira de investimentos.
O Banco BiG Moçambique publicou a primeira edição de um estudo de mercado sobre o “Investimento Institucional” em Moçambique, que visa antecipar a evolução dos principais indicadores macroeconómicos do país para os próximos dois anos. O inquérito foi baseado em entrevistas a um painel diversificado de investidores institucionais (CEO, CFO e gestores de activos) provenientes de empresas de seguros, sociedades gestoras de fundos de pensões, sociedades gestoras de fundos ou activos financeiros e institutos de previdência social.
A maioria dos inquiridos acredita que o PIB irá crescer entre 5% e 7,5%, em linha com as previsões do Governo e dos analistas internacionais. Em relação aos principais riscos para a economia em 2024, a sondagem destaca a instabilidade política (com 90% de respostas), o elevado endividamento público (80%) e a vulnerabilidade aos desastres naturais (75%). Outros factores externos como as guerras (30%) ou a ocorrência de uma nova pandemia (20%) foram considerados riscos de menor relevância. Ao nível de oportunidades, o estudo sublinha o impacto positivo que a anunciada retoma de actividades da TotalEnergies poderá gerar na economia. Menos de um terço dos inquiridos (31%) estima que esse efeito irá ocorrer já no primeiro semestre de 2024; 46% no segundo semestre e 15% só em 2025.
No que refere aos negócios, 85% dos gestores estão optimistas quanto ao crescimento das suas empresas em 2024, ao passo que os restantes 15% estimam um abrandamento, ou até uma estagnação. Paralelamente, 69% prevêem um aumento da concorrência no seu sector, sendo o segmento mais representativo o dos seguros. Nos investimentos, a maioria (69%) revela que utiliza a taxa dos bilhetes de tesouro (BT) como benchmark e que o principal critério para seleccionar investimentos é a rentabilidade (90%), seguido da consistência dos rendimentos (80%), o nível de risco (76%), a liquidez (60%) e os critérios ESG (50%).
Num ano de eleições, grande parte dos gestores de empresas antevê a eclosão de uma instabilidade política capaz de impactar negativamente no desempenho da economia
Conheça, seguidamente, as previsões detalhadas para os indicadores-chave da economia, para a política monetária e para as estratégias de investimento.
Economia
PIB cresce, inflação cai, metical estabiliza. Os analistas do BiG recordam que o PIB expandiu 5,92% no terceiro trimestre de 2023, comparativamente ao período homólogo de 2022. O sector do gás e a recuperação da indústria transformadora foram os que mais contribuíram para o crescimento, a somar à expectativa de instalação de mais uma plataforma flutuante no projecto Coral Sul FLNG e à anunciada retoma da TotalEnergies ao projecto de gás da Área 1 na Bacia do Rovuma.
Produto Interno Bruto (PIB)
Para 2024, 54% dos inquiridos estimam que o PIB irá crescer entre 5% e 7,5% (uma percentagem em linha com a estimativa de 5,5% do Governo e de 5% de instâncias internacionais como o FMI), enquanto 38% estimam um crescimento entre 2,5% e 5,0%. Para 2025, 69% estimam que a economia irá crescer entre 5% e 7,5%.

Inflação
A taxa desceu de forma ao longo de 2023, culminando, em Dezembro, com uma inflação homóloga de 5,3%, enquanto a média dos últimos 12 meses se situou em 7,13%. Para 2024, 69% dos inquiridos estimam que a inflação se situará no intervalo de 5% a 7,5%, em linha com a previsão do FMI de 6,5% e com a meta de 7% definida no Plano Económico Social e Orçamento do Estado (PESOE-2024).
Mercado cambial
O metical registou, em 2023, uma apreciação cumulativa face ao rand de 8,75%, uma depreciação face ao euro de 4,17% e ao dólar de apenas 0,05%. O ano terminou com o dólar a valer 63,9 meticais. Para o primeiro semestre de 2024, 69% dos inquiridos estimam que o câmbio face ao dólar se mantenha entre os 62,5 e os 65. Para o segundo semestre, as opiniões divergem: 38% mantêm a previsão; 31% prevêem uma apreciação para 60 a 62,5 e 31% estimam uma desvalorização para 65 a 67,5 meticais por dólar.
Reservas Internacionais Líquidas (RIL)
Após atingir o valor mínimo de 2,5 mil milhões de dólares (equivalente a 3,2 meses de importações) em Setembro de 2022, as RIL têm vindo a recuperar fechando o ano com 3,4 mil milhões (4,3 meses de importações). A maioria dos gestores (54%) estima que as RIL no final de 2024 se mantenham (a percentagem desce para 46% em 2025), enquanto 38% antecipam um aumento em 2024 e em 2025.
Exportações
O ano de 2023 foi marcado pelo contraste entre o aumento das exportações de gás natural e o decréscimo nos outros sectores da indústria extractiva. Para os próximos dois anos, a grande maioria dos inquiridos (85%) estima que as exportações deverão crescer em 2024 e 2025, enquanto os restantes (15%) acreditam num cenário de estabilização.
Endividamento público
Apesar do aumento contínuo do stock de dívida pública (66% de origem externa e 34% interna), o rácio da dívida em % do PIB reduziu para 90% graças ao aumento expressivo do PIB para cerca de 19 mil milhões de dólares em 2023. Mais de metade (54%) dos inquiridos estimam um aumento deste rácio em 2024. Já em 2025, 77% crêem que se mantenha ou diminua e apenas 23% dizem que irá aumentar.
Embora o ambiente seja predominantemente de riscos, prevalece a esperança de que a retoma da TotalEnergies ao projecto Coral Sul possa melhorar as perspectivas de um crescimento robusto em 2024
Política monetária: contexto restritivo está para durar
O estudo refere ainda que, na última reunião de 2023, o Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique, decidiu manter inalteradas a taxa de juro de política monetária (MIMO) em 17,25% e as restantes taxas do Mercado Monetário Interbancário (MMI), assim como os coeficientes de reservas obrigatórias (RO). Acrescenta que o Banco Central tem adoptado uma política monetária restritiva desde 2021 para controlar a inflação em torno de um dígito e 85% dos inquiridos concordam em classificar o actual contexto como restritivo.
Taxas de juro
Para o primeiro trimestre de 2024, 62% dos gestores estimam que a taxa MIMO permanecerá inalterada; 31% antecipa um aumento e apenas 8% uma redução. Para os trimestres seguintes as opiniões apontam maioritariamente para a descida de taxas.
Reservas obrigatórias (RO)
Para o primeiro semestre, 69% prevê a manutenção do coeficiente de RO em moeda nacional e 31% prevê uma diminuição, uma percentagem que cresce para 46% no segundo semestre. Em moeda estrangeira, apenas 23% prevê uma redução.

Mercado de capitais
A Bolsa de Valores de Moçambique registou um crescimento do volume de transacções de 33% em 2023. Os destaques vão para o aumento das emissões de papel comercial (total de nove emissões) e de Obrigações do Tesouro com cupão fixo a dez anos.
Estratégia de investimentos: bilhetes do tesouro em alta
Para os próximos 12 meses, 69% dos inquiridos pretendem aumentar a sua exposição em BT. Em contrapartida, 62% pretende reduzir a sua exposição em obrigações de tesouro. Porém, a maioria (77%) acredita que ambas irão manter, ou reduzir, as taxas de rentabilidade em 2024.
Onde investir em 2024
Os inquiridos preveem aumentar os seus investimentos em bilhetes do tesouro (69%), papel comercial (38%) e imobiliário (38%). Paralelamente, 77% pretendem diminuir o peso das acções não cotadas, 62% das obrigações de tesouro e 46% das acções cotadas. No que se refere à exposição aos instrumentos de taxa fixa, a média actual entre os inquiridos é de 66,6%, uma percentagem acima da exposição ao risco soberano cuja média é de 51,7%.
Onde aplicar a médio prazo
54% dos inquiridos mostrou preferência em investimentos de rentabilidade mais curta como os bilhetes de tesouro ou o papel comercial, ao passo que 38% aplicaria em alternativas de médio prazo, por exemplo, obrigações e tesouro corporativas. Apenas 8% aplicaria em depósitos a prazo e nenhum escolheu os depósitos à ordem ou as acções.
De referir que a maioria (77%) dos investidores institucionais que responderam ao estudo do banco BiG detinha activos sobre gestão ou carteiras de investimentos superiores a 250 milhões de meticais em 2023 e 54% acima de um milhão, das quais 69% apresentaram rentabilidades médias superiores a 10% em 2023 e 38% acima de 15%.
Texto: Jaime Fidalgo • Fotografia: D.R