Localizado no bairro da Sommerschield, mesmo à beira da avenida Kwame Nkrumah, o restaurante Céu da Boca é uma representação de resiliência, característica inspirada no seu fundador, Tito Lívio Pereira Ferrinho. Não é o das historiografias; é um jovem moçambicano que muito cedo foi viver para Portugal e lá começou a sua carreira de empreendedor no ramo da restauração.
Abriu dois restaurantes com o mesmo nome, Céu da Boca, um jogo de palavras, numa alusão aos sabores gastronómicos, representando um paraíso para o paladar. Tito explica que a escolha também remete para a sua primeira casa de restauração em Portugal, no Montijo, onde uma abóbora servida como entrada lembrava a imagem do céu de uma boca. Na Sommerschield, o cardápio diversificado do restaurante inclui pratos moçambicanos e portugueses, destacando-se mariscos, caranguejo, peixe, polvo e lula. A frescura dos produtos é o que faz a diferença: todos os dias, Tito Lívio vai ao mercado comprar ingredientes frescos. A política de manter uma reserva mínima, combinada com preços acessíveis, contribui para a singularidade do estabelecimento. Os pratos de cartaz incluem o caranguejo ao natural, bife à Céu da Boca e uma tábua mista de carnes.
O Céu da Boca procura ser mais do que um restaurante. É uma experiência gastronómica e social. A ligação entre inovação e hospitalidade
O bife ao Céu da Boca é um dos segredos da casa. É quase pecado passar por lá sem o provar. Leva um molho especial (que é a essência do segredo), fiambre, queijo e ovo estrelado. Só experimentando dá para apreciar o sabor incrível de que é feito. Além disso, o bife desfaz-se na boca, numa sensação inigualável.
Além da excelente comida, o ambiente descontraído e divertido do restaurante é um atractivo adicional – especialmente às sextas-feiras, quando é palco do after work, oferecendo música seleccionada, DJs, promoções de cervejas, cocktails e outras bebidas. A programação das sextas tem em mente momentos de diversão e convívio para quem termina uma semana de trabalho, criando um espaço apetecível até às 21h00.
Um percurso curioso
Nascido em Nacala, província de Nampula, Tito Lívio viveu em Moçambique até os 8 anos, mudando-se depois com a mãe e irmãos para Portugal. Em 1999, durante as férias em Moçambique, decidiu permanecer no País. Antes mesmo de decidir ficar de vez, brincava com a família sobre esse eventual regresso, que acabou por se concretizar.
Pioneiro na família a investir no ramo da restauração, em 2020, a enfrentar a crise da covid-19, viu uma oportunidade no cenário adverso. Depois de perder o emprego, optou por investir as poupanças na abertura do Céu da Boca, desafiando as circunstâncias, num cenário em que muitos restaurantes e operadores turísticos encerravam portas. O que é que o motivou para esse investimento? O medo de ficar em casa, sem produzir, a contar apenas com dinheiro que talvez só o sustentasse durante um ano.
Texto: Filomena Bande • Fotografia: D.R.