Sung Min Cho ou simplesmente “Mini”, como é tratado, é o único – e consagrado – surfista moçambicano profissional. Espera ver a modalidade trazer impacto positivo para as comunidades, enquanto sonha com os Jogos Olímpicos de 2028.
Tem 24 anos e nasceu na cidade de Inhambane, filho de mãe moçambicana e pai sul-coreano. Sung Min Cho provém de uma família humilde e desde cedo teve de trabalhar para ajudar a pagar as despesas da família. Nascido na zona da praia do Tofo, foi numa vaga trazida pela maré do destino que Mini – como também é tratado – viu a sua vida tomar um rumo que não imaginava, impulsionado pela sua paixão pelo mar, o Índico, cujas ondas ouvia quebrar o areal desde que era bebé. Em menino, passava os dias na praia, observando com curiosidade os turistas a surfar, aproveitando as condições da baía do Tofo. Mas, por mais forte que fosse a vontade, o desejo era inalcançável, porque não podia pagar aulas de surf ou a prancha que o iria, mais tarde, encaminhar mar adentro para se entregar à força das ondas que hoje consegue domar.
Em 2014, Mini Cho viu a sua sorte mudar, quando ganhou uma prancha de um turista. Embora tenha iniciado a sua maratona no surf com idade considerada avançada para a modalidade, o amor e a dedicação ajudaram-no a tornar-se no primeiro surfista profissional moçambicano, já com várias representações do País em provas internacionais. E aquilo que antes era só um anseio, é hoje a sua vida. “Sim, e não só. Na verdade, o surf continua a ser o meu escape e ajudou-me a mudar, algo que tento que aconteça também com a vida dos outros. Por vezes, as pressões do trabalho e da vida podem ser muito grandes, mas sempre que entro na água para surfar, sinto que escapo a tudo. No momento em que toco na água, limpo a minha mente. Mais do que uma profissão, o surf mudou a minha vida e ajudou-me a apoiar a minha família e a minha comunidade”, relata, com tom de orgulho.

“Ensinar as crianças a nadar e a fazer surf acabará por levá-las a abraçar oportunidades dentro e fora do oceano… O meu objectivo é que aquelas que passam pelo programa cresçam na comunidade, tornando-se uma parte vital nestas áreas”, Sung Min Cho
Fazendo da sua própria vida inspiração, Mini é hoje coordenador do projecto Tofo Surf Club, um programa que visa acolher crianças da região com problemas sociais, aproximando-as do mar e dos benefícios do desporto. “O nosso objectivo é usar o surf para envolver as crianças na vida do oceano, ensiná-las e orientá-las na sua jornada de vida, ajudando-as a crescer e a perceber o seu próprio valor e a importância do mar. Moçambique tem um enorme potencial para os desportos de mar. Tem a quarta maior linha costeira de África, o que naturalmente significa que o oceano é uma parte vital para o quotidiano de muitas pessoas. A água é quente durante todo o ano, também temos sol todo o ano e o Tofo, bem como a região, já tem actividades baseadas no turismo marítimo, pelo que a maioria das oportunidades de emprego estão à volta do oceano”.
“Ensinar as crianças a nadar e a fazer surf acabará por levá-las a abraçar oportunidades dentro e fora do oceano”, acredita Mini, seja como “instrutores de surf, mestres de mergulho, capitães de barco, nadadores-salvadores ou outras funções”. “O meu objectivo é que as crianças que passam pelo programa cresçam na comunidade, tornando-se uma parte vital nestas áreas e ao mais alto nível”, assinalou.
Mini destaca que o Tofo Surf Club continua a abrir caminho para o crescimento da modalidade e da cultura do surf local, mas realça a necessidade de outras zonas costeiras adoptarem estas estratégias, para “haver uma abundância de talentos” e, definitivamente, um País “com potencial para ser candidato olímpico nestas disciplinas” ligadas ao mar.
Sung Min Cho já conseguiu colocar o seu nome em provas de surf internacionais e confessa ter grandes sonhos para a carreira e para o futuro do surf no País. “Neste momento, o meu objectivo é ir aos Jogos Olímpicos, em 2028. Para o surf, desejo que cresça em Moçambique. Espero ver cada vez mais moçambicanos a representar o País. Mais do que tudo, quero ver o surf a mudar as comunidades e a ser usado para uma mudança positiva”.



Texto: Filomena Bande • Fotografia: D.R.