A administração da empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) comunicou que foi “colhida de surpresa” pelas denúncias da consultora sul-africana Fly Modern Ark (FMA), sobre desvios de verbas, mostrando-se preocupada com os impactos causados à sua reputação.
Numa carta assinada pelo director-geral da LAM, João Carlos Pó Jorge, dirigida ao ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, é referido que a direcção reuniu “de emergência”, após a conferência de imprensa em que foram denunciados alegados esquemas de desvio de dinheiro em lojas de venda de bilhetes através de máquinas dos terminais de pagamento automático (TPA/POS) que não são da companhia.
“Reiteramos que esta informação não foi previamente partilhada com a direcção-geral da LAM, tendo esta sido colhida de surpresa quando a mesma foi veiculada pelos órgãos de informação. Preocupa-nos o impacto destes pronunciamentos na reputação da empresa, dos trabalhadores e possíveis impactos nas auditorias de recertificação”, avança o documento divulgado nesta quarta-feira (14).
“A administração distancia-se dos pronunciamentos feitos pela FMA e afirma que a gestão de caixa (tesouraria) da LAM está sob responsabilidade exclusiva daquela empresa, que ainda se responsabiliza por todos os pagamentos que são efectuados na companhia aérea. As Linhas Aéreas de Moçambique pautam-se sempre pelo princípio da legalidade, observando escrupulosamente o princípio da presunção de inocência de modo que garanta a sua segurança jurídica em todos os actos que pratica”, conclui.
Nesta segunda-feira (12), a consultora contratada pelo Governo para recuperar a Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) denunciou um esquema de desvio de dinheiro em lojas de venda de bilhetes, através de máquinas dos terminais de pagamento automático (POS) não pertencentes à companhia.
“Fizemos um trabalho relâmpago com a segurança interna da LAM, durante o qual recolhemos todos os POS nos 20 pontos de venda de bilhetes. Há algumas lojas onde os próprios chefes dos estabelecimentos não reconhecem as máquinas e dizem não saber sequer a quem pertencem”, declarou o director do projecto de reestruturação, Sérgio Matos.
O responsável avançou que a inspecção verificou casos suspeitos na recolha de dinheiro vivo nas lojas e no abastecimento de combustível às aeronaves.
“Uma aeronave tem capacidade máxima de combustível na ordem de 80 mil litros, o que nós chamamos também de 80 toneladas. No entanto, constatámos que a mesma está a ser abastecida com 95 toneladas. Então a questão é saber por onde as 15 toneladas restantes estão a entrar”, questionou.
Além destas anomalias, o director denunciou a descoberta de uma conta no Maláui com 1,2 milhões de dólares, a que ninguém na companhia tem acesso.
“Ninguém sabe como movimentar ou tirar este valor. Há situações de funcionários que usam ou usaram fundos da companhia para compra de casas próprias”, secundou.
A LAM está num processo de revitalização, com a Fly Modern Ark na sua gestão, desde Abril do ano passado. A estratégia da empresa segue-se a anos de problemas operacionais relacionados com uma frota reduzida e falta de investimentos.
A rede de voos da LAM conta com 12 destinos no mercado doméstico. A nível regional voa regularmente para Joanesburgo, Dar-Es-Salaam, Harare, Lusaca e Cidade do Cabo, enquanto Lisboa é, desde 12 de Dezembro, o único destino intercontinental.
Diariamente, a LAM realiza mais de 40 voos, operados através da sua frota composta por um Boeing 737, três Q400, dois Bombardier CRJ 900 e dois Embraer 145 operados pela sua subsidiária Moçambique Expresso (MEX).