A economista que segue a economia de Moçambique nas Nações Unidas, Katarzyna Roskosz, considerou este domingo, 21 de Janeiro, à Lusa que o reinício dos grandes projectos de extracção de gás natural no norte do país são o principal impulsionador do crescimento.
“A nossa estimativa de crescimento da economia é relativamente positiva, houve o risco de instabilidade política, mas tem sido maioritariamente contida, e recentemente alguns dos grandes projectos na indústria extractiva recomeçaram”, disse Katarzyna Rokosz, prevendo um crescimento de 5,2% este ano e 6,8% em 2025.
Em entrevista à Lusa na sequência da divulgação do relatório do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (UNDESA) sobre a economia mundial, a analista salientou que a estabilidade política é fundamental para garantir a confiança dos investidores na aposta feita neste país lusófono da África Austral.
“Monitorizamos a situação geral sobre os assuntos políticos, porque é condição essencial para os projectos se materializarem e as perspectivas positivas concretizarem-se”, vincou Rokosz sobre Moçambique, que tem este ano eleições presidenciais e legislativas, depois das regionais do ano passado.
O UNDESA prevê um “modesto crescimento económico” de 3,5% para África este ano, num contexto de abrandamento económico global e degradação da dívida pública.
“O crescimento económico em África deverá continuar modesto, travado pelo abrandamento económico global, aperto na política monetária e nas condições orçamentais, e uma degradação da situação da sustentabilidade da dívida”, lê-se no relatório sobre a Situação Económica Mundial e Perspectivas (WESP, na sigla em inglês).
No ano passado, o crescimento do continente africano foi de 3,3%, com muitas economias a enfrentarem aumentos da inflação, principalmente devido à subida dos preços dos combustíveis e dos alimentos, com muitas a passarem também por desvalorizações das moedas devido à redução das exportações e a uma limitada injecção de capitais externos.
“Apesar destes desafios, a economia africana deverá crescer 4,2% em 2025”, diz o UNDESA no relatório que aponta o aumento da dívida pública face ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e os “exorbitantes custos de endividamento” como um “significativo entrave às perspectivas de crescimento”.
As últimas estimativas apontam para que 18 países africanos tenham um rácio de dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB) acima dos 70% em 2023, com muitos deles em situação de sobre-endividamento, que encarece o acesso e o custo do financiamento externo e torna o financiamento do desenvolvimento “um desafio aterrador”, já que o custo de os países africanos acederem aos mercados internacionais chega a ser quatro vezes superior ao custo para os países desenvolvidos.
No documento nota-se ainda que um desempenho fraco no comércio, os impactos das alterações climáticas e a instabilidade geopolítica também ensombram as perspectivas no continente, que tem um défice de financiamento climático de cerca de 120 mil milhões de dólares por ano, recebendo apenas 2% do fluxo de financiamento mundial para projectos de energia verde.
A nível mundial, o UNDESA prevê que o crescimento económico mundial abrande, de uma estimativa de 2,7%, em 2023, para 2,4% este ano, “tendendo a ficar abaixo da taxa de crescimento pré-pandemia [de covid-19] de 3%”.
“O crescimento do PIB do ano passado, mais forte do que o previsto, ocultou riscos a curto prazo e vulnerabilidades estruturais”, lê-se no relatório, que assume apresentar “perspectivas económicas sombrias para o curto prazo”, sustentadas na “persistência de taxas de juro elevadas, uma nova escalada de conflitos, a lentidão do comércio internacional e o aumento das catástrofes climáticas”, que colocam desafios significativos ao crescimento mundial.