Um primeiro parêntesis para explicar ao leitor menos propenso a dominar conceitos digitais que computação na nuvem, também conhecida como cloud computing, é um termo que se refere à entrega de serviços de computação através da Internet. Em vez de empresas e indivíduos instalarem software nas suas próprias máquinas ou manterem o seu próprio hardware de TI (como servidores), podem aceder a esses recursos de TI por via de um provedor de serviços de nuvem, como o Amazon Web Services (AWS), Microsoft Azure ou Google Cloud.
De facto, a grande maioria dos leitores usa estes serviços, talvez nem se apercebendo, quer seja no armazenamento de fotografias na iCloud da Apple ou fazendo uso da OneDrive da Microsoft para alojamento de ficheiros corporativos.
Os tipos de serviços de computação na nuvem são actualmente muito multifacetados e vão desde infra-estrutura como serviço (IaaS), plataforma como serviço (PaaS) e software como serviço (SaaS). Este último permite a utilização de aplicativos mantidos no servidor na nuvem que vão desde ERP a aplicações de analítica e software de protecção cibernética. De salientar que muitos dos gigantes tecnológicos, como por exemplo a SAP, já anunciaram a migração completa do seu portefólio de produtos para a nuvem.
A computação na nuvem oferece muitos benefícios, incluindo economia de custos, eficiência e escalabilidade. Ela permite que os usuários acedam e compartilhem dados de qualquer lugar, desde que tenham uma conexão com a Internet. Isso também facilita a colaboração e a continuidade dos negócios em caso de desastres ou interrupções. A cloud permite às organizações obter maior agilidade e capacidades de implementar plataformas e/ou ecossistemas combinados.
A utilização da cloud já não representa uma aspiração das organizações, é uma directiva. Transformações e optimizações alavancadas em tecnologias cloud é o novo normal.
Há quem advogue que a migração para a cloud é fácil e rápida. No entanto, esta migração pode não ser tão rápida e fácil como parece devido às complexidades como transferência de dados e necessidades de transformação tecnológica
As organizações estão a realizar rapidamente a mudança das suas infra-estruturas para ambientes cloud. Actualmente, 39% das empresas têm mais de 50% dos seus workloads na cloud e prevê-se que, dentro de 12-18 meses, 58% das empresas tenham mais de 50% dos seus workloads na cloud.
O spending de cloud previsto para 2026 ascende aos 45% do orçamento do IT, o que contrasta com os 17% em 2021.
Existem, no entanto, muitos mitos associados à utilização de computação na nuvem. O primeiro a destacar é que existem problemas de segurança. Assume-se que como os dados não estão em infra-estruturas próprias, podem ser adulterados ou roubados. No entanto, os cloud providers oferecem um conjunto de medidas de segurança, como encriptação, controlo de acessos e backups para garantir que os dados estão seguros.
Outro mito é que a utilização da cloud representa um custo elevado, quando, na realidade, poderá ajudar as organizações a reduzir custos de hardware e manutenção (caso exista o dimensionamento e know-how correcto).

Há também quem advogue que a migração para a cloud é fácil e rápida. No entanto, esta migração pode não ser tão rápida e fácil como parece devido às complexidades como transferência de dados e necessidades de transformação tecnológica. Aqui o planeamento e a definição da estratégia correcta de migração são essenciais.
Por último, existe igualmente o mito que as soluções cloud são menos fidedignas do que soluções on-premise. Na realidade, os serviços de cloud, tipicamente apresentam Service Level Agreement (SLA) mais elevados e que garantem maior nível de disponibilidade (99,9% em alguns casos).
Neste contexto, algumas empresas têm dado preferência à utilização de ambientes híbridos (públicos e privados) para aumentar o controlo sobre a infra-estrutura e os dados. Embora a cloud privada seja mais cara permite manter os dados sobre jurisdições específicas. As organizações estão igualmente a optar por utilizar data centers na mesma região onde operam para aderir a regulamentos locais.
O controlo e regulação sobre a utilização da cloud é um tópico de crescente debate. Com o aumento da utilização de serviços cloud, preocupações de cibersegurança e contexto geopolítico, as organizações têm vindo a implementar um conjunto de estratégias e acções para irem ao encontro da regulação e preocupações sobre a soberania dos dados.
No contexto de Moçambique, é de salientar que o Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação, IP. (INTIC) e a Associação Moçambicana de Bancos celebraram, recentemente, um Memorando de Entendimento com vista à elaboração do Regulamento para a Computação em Nuvem de Moçambique. Este regulamento é essencial para a introdução deste tipo de tecnologia e paradigmas no País, uma vez que a evolução para serviços Cloud gera desafios na interpretação, governação e implementação da regulamentação nacional e cria a necessidade de clarificação das implicações legais deste modelo.
Os temas sobre a computação na nuvem foram alvo de debate do primeiro almoço do EY Digital Club, que visa ser um espaço de debate entre líderes com responsabilidades na esfera das TI e do Digital. Com esta iniciativa, a EY pretende apresentar insights e pontos de vista desafiantes sobre como a transformação digital está a impactar os vários sectores de actividade. É também uma oportunidade para conhecer casos de estudo de empresas que estão a liderar nos seus mercados através da criação de produtos, serviços ou experiências desenvolvidas de raiz para um mundo digital e que possa ser pensada a sua introdução ou desenvolvimento no contexto de Moçambique.
Fazem cada vez mais falta estes fóruns de discussão que permitem pensar soluções consensuais para o desenvolvimento do País, e para que este consiga dar saltos qualitativos na transformação digital dos sectores públicos e privados.
É essencial todos nós fazermos a nossa quota-parte neste importante desafio, crucial para o desenvolvimento económico e social de Moçambique. Está preparado para isso?