A visão do estado de maturidade de cibersegurança em África é um tópico em constante evolução, à medida que a região enfrenta desafios crescentes e inovações tecnológicas diárias no presente cenário cibernético. Contudo, é possível identificar alguns elementos-chave que caracterizam o estado actual da cibersegurança neste continente.
Em primeiro lugar, há muitos países africanos que estão já a trabalhar activamente na melhoria das suas capacidades de cibersegurança. Veja-se o caso paradigmático de Cabo Verde, cujo Governo, em estreita colaboração com o seu Ministério da Economia Digital, está a investir fortemente na melhoria da sua rede de sistemas e infra-estruturas, no ecossistema de startups, no incremento das matérias relacionadas com a cibersegurança nas universidades e academias e ainda através da sua recente aposta na sua promoção como “ilha digital”, um autêntico “tech hub” e pólo de atracção e captação de investimentos e empresas estrangeiras. Por outro lado, garantindo empregos para os jovens talentos locais em tecnologias de informação e comunicação.
Alguns Estados têm reconhecido a importância da protecção de infra-estruturas críticas, dados pessoais e segurança cibernética em geral. Vários governos estão assim a investir activamente e a implementar estruturas regulatórias, promovendo uma maior consciencialização em matéria de segurança cibernética nos seus países e dentro das suas organizações.
Em contrapartida, o continente africano enfrenta ainda desafios significativos em termos de capacidade e recursos. Muitos países africanos carecem de infra-estruturas tecnológicas robustas e de técnicos especializados em cibersegurança. A falta de investimento e a disparidade económica entre os países contribuem igualmente para esta diferença de maturidade em matéria de segurança cibernética.
Além disso, a ameaça cibernética está em constante evolução e dinamismo, tornando-se cada vez mais complexa e sofisticada. África tem vindo a enfrentar ataques cibernéticos cada vez mais frequentes, que variam desde ataques de phishing até ameaças avançadas persistentes e mais destrutivas como os ataques de ramsonware. Tais situações requerem, por isso, uma resposta coordenada e actualizada em matéria de cibersegurança e segurança da informação.
A colaboração regional é fundamental para enfrentar os desafios cibernéticos em África, e a criação de alianças com a desejável partilha de dados entre os países e instituições regionais poderá fortalecer as defesas cibernéticas, visto que, ao partilhar informações e trocar experiências sobre ameaças, promove-se, em simultâneo, a crescente cooperação em capacitação e pesquisa, com vista à eficácia na maior detecção, prevenção e minimização de eventuais riscos com graves consequências.
Adicionalmente, a consciencialização em cibersegurança está a tornar-se uma prioridade e uma tendência em ascensão em muitos países africanos. A educação e a sensibilização do público em geral, das empresas e dos seus colaboradores sobre os riscos cibernéticos são, sem dúvida, cruciais para fortalecer a postura de segurança e protecção da informação. Nunca me canso de reforçar a necessidade urgente da aposta na formação e na crescente literacia digital e, sobretudo, em literacia em cibersegurança.
É essencial, não só as empresas implementarem estratégias continuadas de comunicação junto dos seus colaboradores sobre as boas práticas de cibersegurança, como também procederem de forma sistemática à realização de testes simulados de engenharia social, para conseguirem medir o nível de preparação dos seus próprios colaboradores e dos seus sistemas, para os mesmos conseguirem ser os primeiros a detectar e saber reagir perante cenários reais de ataque.
O nível de maturidade de cibersegurança de um país pode variar amplamente e será sempre influenciado por uma série de factores, incluindo investimento em tecnologia, consciencialização de utilizadores – corporativos e pessoas em geral –, para as temáticas da segurança cibernética, da capacidade de resposta a incidentes, da regulamentação e da colaboração internacional.
Na conjuntura única do continente africano, destaco aqui cinco vectores essenciais que fazem da sua localização geográfica e do seu enquadramento histórico a porta de entrada para o novo mundo nesta Era digital:
1) A proximidade com o que melhor se faz na Europa/Ocidente ao nível tecnológico está também a ser adoptado e implementado em vários países africanos;
2) A relação próxima e a afinidade histórica de empresas portuguesas fixadas nas ex-colónias é um factor diferenciador que tem vindo a ajudar na promoção da segurança em alguns países deste continente;
3) A mentalidade dos Governos nos países mais evoluídos de África tem igualmente ajudado a incentivar e a fomentar os restantes face à adopção urgente de medidas de cooperação regional;
4) O facto de o continente africano, pela sua imaturidade digital, estar a ser um alvo preferencial de ciberataques, como são exemplos as instituições do Estado, Administração Pública e a área financeira;
5) E, por último, conforme demonstram os dados estatísticos, África é sinónimo de um povo com tendência e aptidão pelo digital, aliado ao facto de ser uma população extremamente jovem e dinâmica.
A minha visão sobre o estado de maturidade da cibersegurança em África é de crescimento e evolução positiva, ainda que com desafios significativos pela frente neste caminho incerto rumo à nova era digital e ao mundo cibernético. A região está a esforçar-se e a preparar-se para alcançar padrões mais elevados de cibersegurança e ciber resiliência, reconhecendo, em simultâneo, a importância crítica desse domínio no mundo digital actual, até tendo em conta o próprio entendimento e a leitura crítica do contexto geopolítico.
A colaboração, a educação e o investimento contínuo (público e privado) serão cruciais para garantir que a região esteja preparada para enfrentar e reagir de forma positiva e eficaz face aos desafios futuros, num mundo marcado pelo crescente número de ciberataques, os quais não vão parar. África não será excepção a esta tendência mundial em matéria de cibersegurança e urge posicionar-se no mapa mundo da cibersegurança.