Não há estudante de economia ou de ciências afins que nunca tenha tido contacto com o pensamento de John Maynard Keynes, logo nos primeiros anos do curso. Foi tão importante na formulação da ciência, baseado em fenómenos reais dos mercados, que ainda merece destaque na resolução dos problemas mais complexos das sociedades modernas. O que nos trouxe Keynes?
Economista, teórico e jornalista britânico, nascido em 1883 e falecido em 1946, tornou-se conhecido por ter concebido teorias revolucionárias acerca das causas do desemprego prolongado. O seu trabalho mais importante intitula-se “The General Theory of Employment, Interest and Money” (1935-1936), obra em que defende uma solução para a recessão económica baseada numa política governamental de controlo do crédito e da circulação financeira que garanta o pleno emprego. Keynes é considerado o pai da macroeconomia.
A doutrina Keynesiana ficou conhecida como uma “revisão da teoria liberal”. Estabelece que o Estado deve intervir na economia sempre que necessário, a fim de evitar a retracção económica e de maneira que garantisse o pleno emprego. De acordo com Keynes, a teoria liberal-capitalista não disponibiliza mecanismos e ferramentas capazes de garantir a estabilidade do mercado de emprego de um país. Para o economista, o poder público deve investir nas áreas que as empresas privadas negligenciam.
Assim, as principais características do Keynesianismo são a defesa da intervenção estatal nas áreas em que as empresas privadas não podem ou não desejam actuar; oposição ao sistema liberal; redução de taxas de juros; equilíbrio entre a procura e a oferta; garantia do pleno emprego; e introdução de benefícios sociais para a população de baixo rendimento, no sentido de garantir um sustento mínimo.
A aplicação prática do Keynesianismo
Com a “grande depressão” de 1932, ficou claro que o liberalismo clássico, sozinho, não era capaz de garantir o pleno emprego (situação em que todos os que buscam emprego – população economicamente activa – conseguem encontrar uma ocupação no curto prazo). Naquela ocasião, com a quebra da bolsa de valores e com uma grande crise financeira entre mãos, o Presidente norte-americano Franklin Roosevelt, baseado nos princípios de Keynes, implementou o famoso plano “New Deal”, visando tirar os EUA da retracção económica.
De facto, o plano funcionou. Além da intervenção estatal, o plano estabelecia o controlo na emissão de valores monetários, o investimento em sectores básicos da indústria e, claro, políticas de criação de emprego.
“A doutrina Keynesiana ficou conhecida como uma “revisão da teoria liberal”. Estabelece que o Estado deve intervir na economia sempre que necessário para evitar a retracção económica”
Com a implementação de uma série de acções que conciliaram as questões económicas e sociais, foram criadas as bases do chamado “welfare state” (Estado de bem-estar social). Bons resultados foram alcançados através do New Deal, porém, perdeu espaço no final da década de 1970, quando o neoliberalismo surgiu com novas propostas, como a abertura comercial internacional e a privatização de empresas estatais. Estados Unidos, Chile e Reino Unido foram os primeiros países a adoptarem o neoliberalismo.
Os preceitos defendidos por Keynes só voltaram aos holofotes com a grande crise de 2008, ocasião em que as principais economias do mundo se viram diante da necessidade de evitar uma situação semelhante à grande recessão de 1929.
Os neokeynesianos
Entretanto, o Keynesianismo voltaria a ser a base para o surgimento de outra corrente de pensamento económico no período após as duas grandes guerras mundiais (por volta de 1945) – o neo-keynesianismo.
Uma das principais contribuições da economia neo-keynesiana foi o modelo IS-LM, uma tentativa de formalização matemática para sumarizar e descrever a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, desenvolvida pelo economista britânico John Hicks.
Além de John Hicks, entre os economistas mais influentes da escola neo-keynesiana estão Paul Samuelson, James Tobin, Franco Modigliani e Edmund Phelps. A estes juntam-se Gregory Mankiw e David Romer, que assinaram o primeiro manifesto da teoria neo-keynesiana em 1991. A abordagem tinha ganhado grande relevância durante a década de 1980.
Críticas ao Keynesianismo
Muitos autores criticaram a doutrina keynesiana alegando tratar-se de uma teoria “socialista”. Apesar de ser contra o sistema liberal, cabe realçar que John Keynes nunca defendeu a estatização da economia, mas, sim, a participação do Estado para suprir necessidades que o sistema privado não atendia.
Para muitos, as críticas feitas por nomes como W. H. Hutt, que procurou identificar falhas no sistema keynesiano, foram importantes. Hutt sempre criticou Keynes, identificando-o muito mais com os valores e com os ideais mercantilistas, o que ficava evidente na forma como ele próprio definia Keynes: um homem que quer “que nós acreditemos que os mercantilistas estavam certos e que as críticas a eles feitas pelos clássicos, erradas”.
Mesmo com todas as críticas e controvérsias, passados muitos anos, a teoria de Keynes continua a ser usada como base de estudos em diversas universidades no mundo.

Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R